São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Governador interino de AL tenta desarmar deputados

De 27 parlamentares, 26 portam armas ou mantêm seguranças

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O governo de Alagoas tenta desarmar a Assembléia Legislativa do Estado, mas só 1 dos 27 deputados estaduais concorda com isso.
O governador interino Manoel Gomes de Barros (PTB) quer que os deputados estaduais e seus seguranças particulares deixem de usar armas.
Mas a medida causa polêmica. Muitos dos deputados vão às sessões com colete à prova de balas e trazem pistolas ou metralhadoras dentro de suas pastas.
Além disso, a ostensividade de seus seguranças incomoda moradores e turistas em lugares públicos de Maceió. Cada deputado circula com grupos de 5 a 15 homens armados. A maioria afirma que vai continuar armada.
"O próprio secretário de Segurança, general José Siqueira Silva, que foi indicado pelo governo federal, marcou a data para deixar o cargo depois de ter sido ameaçado de morte. Se o general não quer arriscar, nós é que vamos correr esse risco?", questiona o deputado Cícero Ferro (PTB), o mais novo aliado do governador.
Francisco Tenório (PSB), deputado oposicionista e ex-delegado da Polícia Civil, que já teve homens de sua segurança particular envolvidos em desentendimentos com policiais, afirma que não é possível fazer oposição no Estado sem proteção pessoal.
"O mais grave é o fato de que prefeitos, vereadores e líderes sindicais são assassinados sem que nenhum culpado tenha ido para a cadeia", afirmou Tenório.
A deputada Heloísa Helena (PT) é a única que não vai armada ou com seguranças às sessões. "Já fui ameaçada de morte por colegas deputados. Por isso, defendo que a Assembléia Legislativa faça o seu papel e lute pelo fim do armamento de todos os cidadãos", afirmou.
Barros decidiu nesta semana combater o armamento dentro e fora da Assembléia. A base de sustentação do governador é formada por 21 dos 27 deputados.
Ele disse que não vai permitir a manutenção dos "exércitos particulares" dos deputados.
"A imunidade parlamentar permite que os deputados andem armados, mas não seus seguranças. Não vou permitir essa transferência de imunidade que vinha ocorrendo", afirmou.
O governador interino disse que os deputados que se sentem ameaçados de morte podem recorrer aos meios legais, como pedir segurança às Polícias Militar e Civil.
"Vou cumprir a lei. O que não pode é cada parlamentar ter um exército particular e se sentir no direito de entrar com metralhadoras na mão nos locais públicos."
Tragédia
Não é de hoje o costume dos deputados alagoanos de andarem armados. Em 1957, por exemplo, chegou a haver um tiroteio no plenário da Assembléia Legislativa.
Os deputados preparavam-se para votar o impeachment do então governador Sebastião Marinho Muniz Falcão (alguns portavam até metralhadoras), quando começou a trocar tiros. Um morreu, e outros quatro ficaram feridos.

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