São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Perueiros pressionam e Câmara adia votação

RODRIGO VERGARA
CRISPIM ALVES

RODRIGO VERGARA; CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Motoristas protestaram durante todo o dia e conseguiram evitar que projeto que extinguia as lotações fosse vetado

Uma forte pressão dos perueiros e a iminência de um conflito entre manifestantes e policiais militares fizeram com que os vereadores de São Paulo adiassem a votação do projeto que, na prática, extingue o serviço de lotação. Hoje, a cidade tem 2.700 perueiros credenciados, de um total estimado em 15 mil.
A polêmica sobre o assunto extrapolou os limites do prédio da Câmara. Os perueiros, contrários ao projeto, fecharam o viaduto Jacareí e complicaram o trânsito no centro da cidade durante toda a tarde e parte da noite.
Para piorar, o sindicato dos motoristas de ônibus, favorável ao projeto, parou parte da frota.
O projeto chegou a ter o apoio de 32 vereadores no início da sessão, por volta das 16h. Mas, às 20h40, após um dia tumultuado, foi feito um acordo de lideranças e anunciado o adiamento da votação. Naquele momento, apenas 26 parlamentares eram favoráveis ao texto. Eram necessários 38 votos.
"Não tínhamos os votos necessários e quisemos evitar conflitos", disse o vereador Bruno Feder (PPB), depois do adiamento. O projeto volta à votação na próxima terça-feira. Um dia antes, haverá uma discussão sobre o assunto entre as lideranças.
Tensão
Enquanto na Câmara corriam as discussões sobre o projeto, do lado de fora uma multidão de perueiros -estimada em 7.000 pessoas pelas associações da categoria e em 2.000 pela PM- pressionava os vereadores com palavras de ordem contra a extinção do serviço.
Um tumulto chegou a ocorrer entre os manifestantes e os policiais, que se encararam, ao longo de um cordão de isolamento montado pelos PMs, durante quase 12 horas -das 9h às 20h40.
Por volta das 20h20, ocorreu um pequeno confronto entre perueiros e PMs quando três manifestantes ameaçaram entrar na Câmara. Os PMs afastaram os perueiros.
Uma garrafa vazia e duas pedras foram arremessadas contra os policiais. O conflito durou cinco minutos e terminou com a detenção de Corbeliano Evangelista da Silva, acusado de atirar uma pedra. "Eu não fiz nada disso", gritava.
"Em fila, em fila", gritava um oficial a seus comandados. "Ê, ê, ê, Natalício vai morrer", devolviam os manifestantes, referindo-se ao vereador Natalício Bezerra (PTB), autor do projeto.
Segundo o tenente-coronel Jairo Paes de Lira, comandante do 3º Batalhão de Choque, "sem dúvida havia um grande potencial" para um conflito.
O foco da polêmica é um decreto de 1990, da então prefeita Luiza Erundina, que autorizava o transporte de passageiros em lotação.
Bezerra, que é presidente licenciado do Sindicato dos Taxistas de São Paulo, admite que seu projeto defende o interesse dos motoristas de táxi. Os taxistas alegam que os lotações reduziram o movimento.
"Os perueiros desrespeitam a legislação trabalhista empregando crianças como cobradores, trafegam sem segurança e descumprem horários e itinerários", diz.

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