São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997 |
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Construções brasileiras balançam e caem
BARBARA GANCIA
Em poucos países do mundo se constrói tão porcamente quanto no Brasil. E ninguém dá a mínima. Responda-me, ó leitor cidadão: quantos prédios de São Paulo possuem habite-se da prefeitura? Quantos edifícios têm todos os dispositivos antiincêndio exigidos por lei? Quantas rodovias apresentam condições medianamente satisfatórias de segurança? Por culpa da buraqueira, dos desníveis no asfalto e da falta de sinalização, há cerca de um mês, levei mais de uma hora para percorrer um trecho de 40 km, na estrada Jaboticabal - Matão, no coração de uma das regiões mais ricas do país. Aliás, misteriosamente (diz ela, com uma ponta de ironia), a maioria das estradas construídas durante o governo Quércia, há menos de 15 anos, hoje estão caindo aos pedaços. Trafegar nessas colchas de retalhos equivale a brincar de roleta-russa com cinco balas na agulha. A Castelo Branco é outro exemplo vergonhoso. Se se tratasse de uma estrada que liga duas cidades do interior do Pará, vá lá. Mas como não é bem esse o caso, porque somos obrigados a pagar pedágio, quando, na melhor hipótese, corremos o risco de escangalhar a suspensão do veículo? E o que dizer das infiltrações que existem em nove a cada dez prédios da cidade? Tudo bem, vivemos em zona subtropical e a umidade castiga. Mas na Europa as construções sofrem com as intempéries de nevascas e ondas de calor intenso e nem por isso caem aos pedaços com menos de 20 e poucos anos de existência. Os famosos quartos de empregada de prédios construídos nas últimas duas décadas, então, são um insulto à inteligência e ao bolso do comprador. Só podem ter sido projetados para abrigar alguma onda de trabalhadoras vindas da fantástica Lilliput. Os edifícios Joelma e Andraus e o elevado Paulo de Frontin, no Rio, são exemplos dos altos padrões da engenharia e da manutenção nacional. Fico imaginando se São Paulo sofresse um terremoto nos moldes daquele ocorrido em Kobe, no Japão. Não tenha dúvida: o cheiro de queimado seria sentido até os cafundós da Patagônia. Texto Anterior: Perueiros pressionam e Câmara adia votação Próximo Texto: Funcionário público 10; Colunista invejosa; Lucro na tradução Índice |
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