São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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'Junk Mail' é irmãos Coen norueguês

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Junk Mail" parece um filme dos irmãos Coen dublado em norueguês.
Como seus colegas norte-americanos, o diretor Pal Sletaune caminha pela tênue divisória entre o hermetismo do cinema de autor e as escancaradas concessões do cinema comercial. E se dá bem.
O roteiro não é inovador em seu mote: personagem simplório (aqui, um carteiro) acaba envolvido numa trama perigosa e tem sua vida ameaçada por pessoas que ele nem sabe quem são.
O que dá força a "Junk Mail" é a direção segura de Sletaune e o roteiro engraçado, mas enxuto, sem firulas e situações improváveis. A verossimilhança da trama serve para envolver o espectador nas atribulações do carteiro e conduz a história a um clímax não de todo inesperado, mas que fecha com elegância o enredo.
O personagem principal, interpretado por Robert Skjaerstad (que é a cara de Tim Roth, reforçando as semelhanças do filme com o cinema independente dos Estados Unidos), é um carteiro que tem sua vida mudada ao encontrar um molho de chaves na caixa de correspondência do apartamento de uma mulher que mora sozinha.
Movido pela curiosidade, ele entra e vasculha o apartamento. Não há intenção de roubo, é apenas uma traquinagem.
Ele cheira roupas íntimas, vê os álbuns de fotos dela e outras bisbilhotices, que não teriam maiores consequências se ele não escutasse uma mensagem na secretária eletrônica que relaciona a garota a um crime.
Ele rouba uma foto dela e faz uma cópia da chave. Passa a frequentar o apartamento quando ela sai para trabalhar e vai acompanhando o desenrolar dos negócios dela com um marginal.
Um dia, pega no sono e tem de ficar escondido debaixo da cama quando ela volta para casa. Antes que consiga sair, ele a surpreende desacordada e percebe que a mulher tentara o suicídio com overdose de soníferos.
O assustado carteiro decide salvá-la e, a partir daí, tem sua vida completamente ligada a ela. E também a um assassino, um bando de ladrões, uma velha prostituta, um homem moribundo no hospital e uma sacola cheia de dinheiro.
Uma fotografia belíssima, com enquadramentos pouco convencionais, e uma interpretação impecável de Skjaerstad devem garantir a "Junk Mail" uma boa acolhida. Consegue ser um programa interessante para quem está acostumado ao às vezes nada palatável cinema escandinavo e também para aqueles que ainda acham que um filme é apenas uma forma de entretenimento.

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