São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Artista foi pioneira da liberação da mulher

ALFREDO STERNHEIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Nos meus filmes, nas minhas comédias e nos meus livros, fiz o possível para mostrar que uma mulher deve ter os mesmos direitos de um homem. Mas nem pensar em trocar meu vestido e minhas jóias por um terno", disse Mae West, atriz que raramente foi levada a sério. Porém ela viveu e construiu uma imagem coerente com essa preocupação.
É quase certo que essa vedete demorou a ter plena consciência da importância de sua ousada conduta. Afinal, não existiam as feministas de plantão.
Parece que Mae se deu conta do que representava em fevereiro de 1927, ao ser condenada a uma multa de US$ 500 e a permanecer dez dias na prisão "por corromper a juventude" com sua peça "Sex", em Nova York.
Em 1932, estreou em Hollywood. Em "Noite após Noite", de Archie Mayo, obteve êxito num papel secundário e dissipou as dúvidas da Paramount em investir nela. Afinal, Mae já estava com 40 anos e não era bonita.
Mesmo trabalhando sob as rígidas normas da época, Mae sempre conseguia apor vasta carga erótica às suas interpretações. Geralmente, costumava olhar seus galãs não apenas nos rostos, mas também nas suas genitálias.
E essa atitude que, às vezes, aparentava ser uma avaliação, tornou-se marcante em "Uma Dama do Outro Mundo", de Leo McCarey, em que contracenava com o então novato Cary Grant.
Com exuberância, essa loira não foi apenas uma das primeiras mulheres a falar do sexo e fazer humor a respeito, como fez também Dercy Gonçalves.
Só que, diferentemente da nossa debochada senhora, Mae festejou o amor físico, a anatomia masculina, sempre dando preferência a homens fortes e musculosos.
Daí ter tido vários amantes (e apenas um marido), boa parte conseguidos no seu meio de trabalho. Consta que, durante as filmagens de "Homem, Mulher até Certo Ponto" (Myra Breckinridge), em 1970 (seu penúltimo filme), não deixou escapar o brasileiro Nelson Sardelli, seu parceiro numa engraçada sequência de teste cinematográfico.
O diretor Michael Sarne -um inglês que andou pelo Brasil dirigindo Vera Fischer em "Intimidade"- garante que a atriz, então com 78 anos, estava muito fogosa.
Mae West não foi apenas um símbolo do erotismo, mas uma autêntica pioneira da liberação feminina.

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