São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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'Cadernos' homenageia Rachel de Queiroz

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Memória, muita memória nas páginas do quarto número dos "Cadernos de Literatura Brasileira", revista voltada para a vida e a obra de escritores nacionais.
Dessa vez a homenageada é Rachel de Queiroz, 87 anos a serem completados no próximo dia 17 de novembro, autora do legendário "O Quinze" e ganhadora do Prêmio Moinho Santista de 1996, pelo conjunto de sua obra.
A publicação, que chega às livrarias a partir desta semana, mantém o esmerado cuidado editorial de sempre, e o mesmo formato que traz introdução, biografia do autor, entrevista, ensaio fotográfico, inéditos, ensaios sobre a obra e um guia bibliográfico.
A seção de inéditos apresenta trechos do livro de memórias que Rachel de Queiroz está escrevendo com sua irmã Maria Luiza e que deve ser publicado no próximo ano. Um dos fragmentos, "Não me Deixes", trata de como, em 1920, a escritora ganhou de seu pai as terras que se transformariam em sua fazenda, Não me Deixes, no Quixadá, sertão do Ceará, onde até hoje gosta de ir para escrever.
Rachel de Queiroz é cearense de Fortaleza. Aparentada do escritor José de Alencar (sua bisavó materna era prima do autor de "Iracema"), sua biografia tem outras curiosidades. Por exemplo: ela conheceu o padre Cícero em pessoa, a quem pedia a benção.
Também na área das curiosidades, os "Cadernos" enfocam a ascendência judaica da escritora. Para tanto, convidaram para a seção da entrevista, entre outros, o rabino Henry Sobel. Como resposta à pergunta de Sobel sobre se suas "origens judaicas" se manifestam em sua obra literária, Rachel responde que acredita que elas apareçam "mais no meu modo de ser, no modo de levar a vida".
"Nós descobrimos que os Alencares era descendentes de cristãos novos", explica, "porque na época em que a Inquisição estava no auge na Península Ibérica, eles batizavam os judeus e mandavam as crianças para Pernambuco. E os judeus que queriam continuar com suas práticas se internavam no sertão do Cariri. Fiquei muito orgulhosa ao descobrir essas origens, porque sempre fui muito amiga dos judeus". Em 1985, foi inaugurada em Tel Aviv, Israel, a creche "Casa de Rachel de Queiroz", em sua homenagem.
Na seção de ensaios, os "Cadernos" trazem textos do crítico Wilson Martins e das professoras Vilma Arêas, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e Heloísa Buarque de Hollanda, da Universidade do Rio de Janeiro, sobre a obra da "Primeira-Dama da República das Letras", em palavras de Martins.
Também na entrevista aos "Cadernos" está nova oportunidade de escutar a Rachel jornalista falar sobre sua intrigante trajetória política. Ela passou de comunista -que foi presa e teve a obra queimada no Estado Novo- a "conspiradora" do golpe militar de 64. Parente e amiga do então presidente Castelo Branco, participou diretamente de seu governo.
A última aparição da escritora no cenário político do país aconteceu em 1991, quando recebeu, do então presidente Fernando Collor, a Ordem Nacional do Mérito. Nos anos 30, Rachel travara relações com o jornalista Arnon de Mello, pai de Collor.
Casada duas vezes, Rachel teve uma filha do primeiro casamento, que morreu aos 18 meses. Em 1977, tornou-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. A escritora vive no Rio, em prédio do bairro do Leblon que tem seu nome, por homenagem dos vizinhos.

Livro: Cadernos de Literatura Brasileira - Rachel de Queiroz
Lançamento: Instituto Moreira Salles (tel. 011/867-4077)
Quanto: R$ 18 (132 págs.)

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