São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Ed Motta retorna com manual para festa

MARCELO NEGROMONTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de um interregno de cinco anos sem ter seu nome estampado na capa de um disco, o soulman Ed Motta está de volta para animar a festa com o novo álbum, "Manual Prático para Festas, Bailes e Afins - Vol.1".
Com uma produção gráfica típica dos anos 50 ("a melhor época em termos de estética", segundo Motta), "Manual Prático..." é o quarto de sua carreira e promete fazer dançar. "Mas também é para ouvir sentado, com a cabeça."
Motta diz que esse é seu quinto disco, se levado em conta o da trilha sonora de "Pequeno Dicionário Amoroso", lançado este ano -em que ele fez a canção-tema do filme mais outras quatro músicas-, que considera "seu".
"Falso Milagre do Amor", do filme de Sandra Werneck, conta com duas versões no disco: uma original e outra em versão "metais em brasa", um tipo de orquestração que une elementos da escola erudita com o jazz. "É muito raro ouvir isso hoje", afirmou.
"Esse disco é extremamente pop, e eu quero que atinja o maior número possível de pessoas, mas com bastante requinte, como um filme de Frank Capra", disse Motta, 25, em entrevista à Folha, em um hotel de São Paulo.
Extremamente minucioso, Motta cuidou dos arranjos de 15 das 16 músicas do disco e contou com parcerias dos compositores Ronaldo Bastos, Zélia Duncan -em duas canções-, Chico Amaral, letrista do Skank, e Rita Lee.
Foi Rita Lee, aliás, que compôs a letra do carro-chefe do disco, "Fora da Lei". Para chegar ao resultado final, Motta fez a música e enviou pelo correio para ela. "Nós nunca nos encontramos."
Disco music cerebral
Pelo menos três músicas, "Daqui pro Méier", "Fora da Lei" e "A Flor do Querer", têm aspectos de discoteca dos anos 70.
"O que mais me agrada na disco music é que tem um requinte melódico muito legal. E esse álbum tem um cuidado atípico dado ao estilo pop, mais cerebral."
Os standards norte-americanos dos anos 40/50 são as maiores referências para Motta, como Hoagy Carmichael, Jerome Kern e Jimmy Van Heusen, que tiveram composições gravadas por Ella Fitzgerald e Frank Sinatra, entre outros grandes nomes da época.
"Também sou fã do 'easy listening' (também conhecido como 'música de elevador'), de Burt Bacharach e Henri Mancini."
Assumidamente nostálgico e saudosista, Motta considera o som feito nesta década "frio e metálico". "Eu queria viver em um mundo com a estética dos anos 50, a liberdade dos 70 e a facilidade dos 90. Tenho saudades de coisas que nunca vivi."
"Só ouço coisas feitas até, no máximo, 1980. Com raras e boas exceções, depois disso não foi feito nada de bom."
Incognito ("uma das melhores bandas de soul e funk"), Guinga e Ryuichi Sakamoto ("os melhores compositores do mundo") são os artistas contemporâneos enaltecidos por Motta.
Reggae
Desde os tempos de seu ex-grupo Conexão Japeri, Ed Motta ouve reggae, "mas só os clássicos", como Augustus Pablo, Lee Perry, Scientist e muito dub jamaicano.
"Era engraçado porque, naquela época (final dos anos 80), todo mundo me criticava por eu fazer soul e ouvir reggae."
Nesse disco, assim como em dois anteriores, o reggae também está presente, em "Como Dois Cristais", com introdução do já citado Augustus Pablo.
Não só dançante, há baladas em "Manual Prático...", como "Vendaval" e "Por Você Ser Mais", entre outras.
"Adoraria gravar um álbum só com baladas, porque acho que dá mais tempo para mostrar melhor a voz, com mais vagar." E voz é o que não lhe falta.

Disco: Manual Prático para Festas, Bailes e Afins - Vol. 1
Artista: Ed Motta
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 18, em média

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