São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Villela apresenta seu Severino mineiro

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O grupo de 16 atores, selecionados por Villela para o seu primeiro espetáculo como diretor do teatro Glória, foi buscar na fazenda do próprio Villela a inspiração, as cores da terra, a textura e o ritmo para montar o texto de João Cabral de Melo Neto, que virou marco do teatro brasileiro quando montado no Tuca, em 66.
Tudo foi "importado" de Minas. A maquiagem dos atores tem como base a tabatinga, terra de tom amarelado. Os figurinos e cenários foram confeccionados com lonas usadas durante a colheita do café naquela região.
Alguns adereços são ossos de boi, encontrados durante os dois meses de pesquisas do grupo em Minas. Outros são jóias e medalhas, doadas por uma família local para Villela.
Até animais empalhados foram trazidos para a montagem, além de barrigueira de cavalos, flores secas e outros objetos.
Apesar de ter tantas referências à sua terra natal, para Villela, a montagem de "Morte e Vida Severina" significa um renascimento, uma renovação em seu trabalho.
Seu Severino (o retirante que percorre o sertão nordestino em busca de vida), diferentemente das montagens anteriores, foge do tom choroso de autocomiseração.
"Não queria um Severino arauto da seca do Nordeste. Queria um Severino Jasão, um argonauta, um arauto do povo nômade que não tem vida digna por problemas sociais que o aflige", disse Villela.
Assim, o texto conduz à tragédia pelo lamento das tragédias gregas -com muito sangue, "a sangria de um povo anêmico"-, mas também com toques de ironia: "O homem foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela", diz trecho do espetáculo.
Para montar "Morte e Vida Severina", o diretor se inspirou no livro "Terra" e em outros trabalhos do fotógrafo Sebastião Salgado.
O Severino de sua montagem se refere ao sem-terra de qualquer parte do Brasil ou do mundo, mesmo mantendo texto original de João Cabral e as músicas compostas por Chico Buarque para a montagem teatral.
"A coisa mais importante para se discutir neste momento é o reencontro do homem com a terra", afirmou ele.

A jornalista Daniela Rocha viaja ao Rio a convite da organização do festival

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