São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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O excluído

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - José Sarney está de dieta. Não foi ao banquete de Clinton na segunda-feira nem ao jantar do PMDB governista, na quarta. Simplesmente não foi convidado.
"Só vou aonde me convidam. Só fico onde sou bem tratado", disse ele, ontem, com um sorriso de quem está preparando alguma.
Ex-presidente da República e atual presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Sarney fatalmente deveria estar na lista do banquete a Clinton. Se não estava, houve veto. Se houve, foi político.
Jeitoso, matreiro, Sarney tem lá suas fontes no Congresso dos EUA e andava denunciando a estratégia de Clinton de usar a venda de armas para o Chile e os agrados à Argentina para enfraquecer a liderança do Brasil e dividir a América do Sul.
FHC, entretanto, poderia ter fingido desconhecer eventuais críticas a Clinton e convidado Sarney. Como, aliás, fez no caso do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães.
"Isso se faz quando se tem consideração. Mas o Fernando Henrique pode ter consideração com os seus líderes, não comigo", diz Sarney.
Logo, o veto não leva jeito de político-diplomático, mas sim de politiqueiro. Principalmente porque se repetiu dois dias depois, na reunião dos líderes e governadores do PMDB que estão morrendo de pressa de pular no barco da candidatura de FHC.
Nesse caso, Sarney não pareceu se incomodar muito. Está de camarote, vendo as coisas acontecerem e se divertindo ao traçar os cenários de 98.
Acha que muita água vai rolar e que qualquer coisa que o PMDB decida já a favor de FHC só vai ter um efeito prático: manter os ministros do partido neste primeiro mandato. No mais, tudo vai depender das pesquisas e das cicatrizes que o presidente for abrindo nos aliados, especialmente em função dos conchavos eleitorais nos Estados.
A prudência manda que FHC trate bem de Sarney. Ao contrário de ACM, que ganha no grito, mas é capaz de ficar com Collor até o fim, Sarney é daqueles que não altera a voz e tem pulo de onça: silencioso e destruidor. O próprio Collor que o diga.

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