São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997 |
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Cravo Neto mostra a NY 'Out of Bahia'
ANA MARIA GUARIGLIA
Para a mostra, Cravo recolheu quatro imagens das décadas de 60 e 70 e, à sua maneira, as uniu às novas dos anos 90, prenunciando "um novo modo de viver distante das culturas do velho mundo". "A Mulher na Ladeira" é a foto inédita, feita em 1968, considerada pelo fotógrafo um arquétipo em relação ao aspecto histórico de sua obra -o que chamam de fotografia escultórica. Essa imagem serviu de estímulo para as esculturas que Cravo desenvolveu no final dos anos 60, quando estudou no Art Student's League, de Nova York. "Ela ficou guardada durante 27 anos, nunca foi publicada, e hoje se tornou uma reflexão sobre o passado, sintetizando o percurso do meu trabalho", disse. Obra visionária A partir dessa imagem, incluída na mostra, Cravo traçou o roteiro da sua obra visionária. As novas pesquisas visuais remodelam a crise dos antigos valores, que foram esfacelados diante da massificação cultural. Em seu mundo fantástico, idealizou personagens supra-humanos, projetando o ser ideal e o homem perfeito, que também foram alvos do francês Pierre Verger (1902-1996), de quem Cravo era grande admirador. Os objetos exóticos, como as penas e as plantas rebuscadas, foram trocados por outras simbologias, como as lâminas de borracha. Elas estão presentes na foto do cantor Carlinhos Brown, revestido da entidade exu do ritual urubá. "É uma das poucas imagens que criei, como minha contribuição à fotografia fashion brasileira", comentou ele. Nessa mostra, tudo o que poderia simbolizar o primitivismo social, racial e religioso foi substituído pelo ser de cara limpa. O menino branco, retratado entre 1996 e 1997, traz a cabeça erguida, como se sobrepusesse ao tempo para olhar do alto o futuro do seu futuro. O negro Ninha, em foto da mesma época, é diferente dos negros fotografados anteriormente, que se integravam de corpo e alma ao sincretismo afro-brasileiro. As feições quase brancas e o sorriso maroto da figura manifestam a transformação psicológica e artística do autor, para anunciar o amálgama multicultural presente na nova era dos trópicos. Nascido em Salvador, em 1947, Cravo tem participado de exposições coletivas e individuais no Brasil, nos EUA e na Europa. Entre elas, a do Museu da Fotografia de São Diego, na Califórnia, Photo Fest de Houston, no Texas, em Frankfurt, Milão e no México. Possui coleções no Museu de Arte Moderna de Nova York, no Museu Stedelijk, de Amsterdã, na Fundação Cartier, de Paris, e em São Paulo, no seguintes museus: Masp (Museu de Arte de São Paulo) e MAC (Museu de Arte Contemporânea). Para sua terceira exibição na Witkin, Cravo selecionou 7 trabalhos, de 1 m x 1 m, e 20, de 50 cm x 60 cm, todos em preto-e-branco. Exposição: Out of Bahia Onde: Witkin Gallery, Inc. (415 West Broadway, 4º andar), tel. (001-212) 925-5510 Quando: 22 de outubro, às 11h; ter a sáb, das 11h às 18h; até 6 de dezembro Quanto: entrada franca Texto Anterior: Filme sobre cultura esquimó vence 8º Panorama Nórdico Próximo Texto: Fotógrafo é escultor de ritos e mitos Índice |
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