São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Manobra evita votação de contas de FHC

OSWALDO BUARIM JR.
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma manobra das líderes do governo no Congresso e do presidente da Comissão de Orçamento, senador Ney Suassuna (PMDB-PB), impediu que fossem votadas ontem as contas do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1996.
Relatório do senador Jefferson Peres (PSDB-AM) sobre as contas do ano passado afirma que o governo reduziu em 10,3% as despesas com saúde e saneamento e em 8,61% os gastos com educação e cultura em comparação com 1995.
Suassuna assumiu a defesa do governo e, antes das 10h, ligou para Peres pedindo que não comparecesse à Comissão de Orçamento porque não haveria reunião.
Por volta de 11h, Suassuna abriu a reunião e decidiu adiar a votação, alegando que Peres não poderia comparecer porque tinha outro compromisso.
Suassuna nem deixou que o líder do governo no Congresso, senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), debatesse com o deputado Paulo Bernardo (PT-PR) sobre a queda nas despesas da área social apontadas por Peres.
Após ler ofícios e requerimentos recebidos e expedidos pela secretaria da comissão, Suassuna encerrou a sessão, adiando a discussão sobre as contas. O assunto só deve voltar à pauta em duas semanas.
"O Suassuna pediu que eu não fosse", afirmou Peres. "Mas não vou levar essa nas costas. Não vai passar (para a opinião pública) que não compareci por razão subalterna, conveniências de governo ou de partidos", disse o senador, que soube nos corredores do Congresso que a comissão havia aberto e encerrado sua reunião.
Pego de surpresa pela revelação, Suassuna tentou intimidar os jornalistas. "Vocês estão fuçando onde não deveriam fuçar", disse. Sem sucesso, admitiu ter afastado Peres da Comissão de Orçamento. "Pedi mesmo, pedi", disse antes de deixar o Senado para viajar.
Se a manobra não desse certo, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), se encarregaria de designar um deputado para pedir o adiamento da reunião.
"Não concordo com a forma como apresentou o relatório nem com o teor do texto dele (Peres)", avisou Madeira. Se Peres não mudar o texto, Madeira diz que vai tentar derrubar o relatório.
O que mais irritou os governistas no relatório de Peres foi a crítica direta ao presidente FHC. Em seu voto, Peres diz que "a um governo engajado na social-democracia não cabe esse tipo de política (de cortes na área social)".
Continua o relatório: "Ainda mais quando se considera que a priorização dessas áreas (educação e saúde) foi objeto da campanha eleitoral do senador Fernando Henrique Cardoso".
Ontem, em meio à repercussão do relatório e da manobra para que sua votação fosse adiada, Peres disse que o governo precisa ter mais "humildade" para aceitar as críticas.
Depois do constrangimento causado por seu relatório, Peres disse que "poderia ter omitido a crítica". Ele argumentou, entretanto, que decidiu cobrar as promessas de campanha porque não entrou em um partido social-democrata "por acaso".
Professor de economia na Universidade Federal do Amazonas, Peres foi convidado recentemente para entrar no PPS, no PDT e no PSB. Disse que sairia do PSDB para apoiar um candidato de centro-esquerda à Presidência da República, como Ciro Gomes.
Sem a viabilidade da candidatura de centro-esquerda, Peres diz que desistiu da idéia para "não ficar com a esquerda contra Fernando Henrique".

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