São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997 |
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Brasil exporta religiões para o Mercosul
JOÃO BATISTA NATALI
São dados apresentados ontem pelo sociólogo Ari Pedro Oro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no 21º encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que se encerra hoje em Caxambu (MG). A exportação religiosa não é recente, diz Oro. Foi em 1966 que se instalou em Buenos Aires o primeiro terreiro de umbanda. Há hoje na cidade cerca 400 registrados, mas o número real talvez seja duas vezes maior. No Uruguai, os primeiros terreiros chegaram nos anos 50. Recente pesquisa demonstra que 5% dos moradores de Montevidéu frequentam templos de umbanda. "Durante as cerimônias, as 'entidades' (espíritos) falam português, ou no mínimo 'portunhol', e às vezes necessitam de intérpretes para o castelhano", relata o professor gaúcho. "Com isso, o português, nesses terreiros, passou a ter o mesmo significado que o latim possuía em outras épocas para o catolicismo. É um idioma de certo modo sagrado", acrescenta. Uma primeira observação: essa expansão em direção aos vizinhos do Mercosul se dá por intermédio de pais-de-santo gaúchos. "É um produto de exportação brasileiro, que tem procura e também preço, já que esses líderes religiosos cobram mais na Argentina e no Uruguai pelo mesmo trabalho que fazem no Brasil", diz Oro. Segunda observação: a forte implantação da umbanda serve de pretexto para que a Igreja Universal do Reino de Deus vá atrás, já que ela vê as religiões afro-brasileiras como "coisas do demônio", passíveis de cerimônias públicas de "exorcismo apoteótico". Em outras palavras, o Brasil não exporta apenas religiões. Exporta também a guerra religiosa que já existe internamente. Para "identificar o demônio" que estaria presente nas práticas afro-brasileiras, pastores argentinos e uruguaios da Universal do Reino de Deus "chegam a ter aulas especiais sobre exus e pombas-giras". "A Universal necessita de demônios territorialmente localizados", constata o sociólogo. Com agressividade menor em relação a outras crenças, os neopentecostais da Deus É Amor também se tornaram produtos de exportação. Eles têm hoje 51 templos na Argentina e 71 no Uruguai. Texto Anterior: Quebra de sigilo bancário de PC é mantida Próximo Texto: Desnível escolar permanece Índice |
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