São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nota pede para bandido entregar armas

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Nota que será divulgada hoje pela Secretaria de Segurança Pública do Rio pede aos criminosos que se rendam e entreguem suas armas na sede da ONG (organização não-governamental) Iser (Instituto de Estudos da Religião).
O texto da nota, obtido pela Folha, é uma represália da secretaria contra o Iser, que há uma semana finalizou pesquisa sobre violência policial.
Encomendada pela Comissão da Violência Policial da Assembléia Legislativa, a pesquisa do Iser concluiu que pelo menos 120 mortes praticadas por policiais apresentam indícios de execução.
Em tom irônico, a nota diz: "Solicitamos aos bandidos civis do Rio de Janeiro ainda em atuação que se rendam incondicionalmente, fazendo a entrega de suas poderosas armas na ladeira da Glória, 98, sede do Iser".
O secretário-executivo do Iser, Rubem César Fernandes, disse que "um assunto muito sério" não pode ser tratado assim pela secretaria.
"Não é próprio de uma agência de segurança. Eles estão expondo a entidade. Nos últimos dois anos, já fomos assaltados três vezes. As pessoas que trabalham aqui estão muito assustadas", afirmou Fernandes.
No Iser, funciona a sede do Movimento Viva Rio, que se propõe a trabalhar pela recuperação social, econômica e cultural da cidade.
A nota da secretaria foi escrita ontem de manhã pelo tenente-coronel Milton Corrêa da Costa, assessor parlamentar do secretário estadual de Segurança Pública, general da reserva Nilton Cerqueira.
"A gente está pedindo (para os criminosos se entregarem) porque lá (a sede do Iser) é lugar de pesquisa de grau de violência. De repente, lá tem até uma sala específica", afirmou.
Uma segunda nota em tom de deboche foi divulgada ontem pela secretaria.
Assinada pelo assessor parlamentar, a nota convida "os pesquisadores do Iser e os senhores deputados da CPI da Violência, da Assembléia Legislativa" para o enterro do soldado José Luiz Ferreira da Silva, da Polícia Militar.
Silva foi morto a tiros na favela do Jacarezinho (zona norte). O crime foi creditado pela secretaria a "bandidos civis".
Corrêa da Costa disse à Folha não acreditar que o Iser envie representantes ao sepultamento.
"O pesquisador deve estar em sua casa gastando o dinheiro da pesquisa", afirmou.
Os ataques ao Iser não se limitaram ao assessor da secretaria.
O próprio secretário atacou a ONG, ao comentar as 38 prisões em flagrante registradas anteontem pela polícia.
"O número de presos somente em um dia, ao contrário do que apregoa esse Iser, mostra que daria para lotar um presídio de segurança máxima, sustentado pelo povo", disse Cerqueira.

Texto Anterior: Cadeia blinda piso de celas para evitar fuga
Próximo Texto: Iris defende pena alternativa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.