São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Hong Kong leva efeito dominó às Bolsas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Uma queda de 10,41% na Bolsa de Hong Kong, a maior registrada na história do mercado em um dia, fez estragos pelo mundo todo ontem, derrubando os principais mercados europeus e também o norte-americano. No Brasil, não foi diferente. A Bolsa paulista despencou 8,15%.
Como ocorreu nos últimos meses na Tailândia, a crise começou com um ataque especulativo contra a moeda local, o dólar de Hong Kong. Para conter a especulação, as autoridades monetárias locais decidiram elevar os juros.
O banco central de Hong Kong puxou as taxas básicas de 8,75% para 9,5%, o que provocou a alta generalizada dos juros nos demais segmentos do mercado.
Nos empréstimos entre bancos, a taxa para um dia saiu de 6% para superar os 100% em menos de uma hora, chegando a bater 300%.
A dimensão da reação dos mercados pelo mundo -bem maior ontem do que em julho- se deve justamente à importância de Hong Kong no cenário internacional, em comparação com a da economia tailandesa.
O resultado desse susto generalizado foi o efeito dominó que atingiu os mercados assim que começaram os negócios. Em Tóquio e Londres, as ações caíram 3%; em Frankfurt, 4,7%; e em Paris, 3,4%.
Os mercados da Argentina e do México também sentiram os efeitos da crise asiática, recuando respectivamente 4,9% e 4,5%.
Em Nova York, o mais importante mercado de ações do mundo, as ações fecharam com queda de 2,3% -a maior queda em um dia desde 15 de agosto.
Segundo analistas de Nova York, muitos administradores de fundos de investimento decidiram vender parte de suas ações para não perder a rentabilidade acumulada no ano.
A interpretação desses analistas é a de que a crise em Hong Kong serviu como um empurrão extra para a realização de lucros no mercado nova-iorquino.
Ou seja, nos EUA, o cenário para as Bolsas não chega a ser ruim, inclusive porque as taxas pagas pelas aplicações de renda fixa recuaram ontem para 6,32% ao ano. E isso porque muitos investidores que hoje estão nos mercados asiáticos devem buscar mercados mais seguros, o que aumentará o fluxo de recursos para os EUA.
E ainda porque, diante das turbulências na Ásia, dizem os analistas, dificilmente o banco central norte-americano irá elevar suas taxas básicas de juros.
Queda-de-braço
No caso de Hong Kong, a taxa de câmbio é atrelada ao dólar e flutua em um intervalo muito estreito. Os responsáveis pela política monetária de Hong Kong afirmaram que os especuladores que atacaram a moeda do país foram derrotados.
"Os investidores ficaram vendidos em dólares de Hong Kong e eu posso admitir que vendemos dólares norte-americanos (para conter a especulação) porque havia demanda", disse Joseph Yam.
Segundo ele, se os especuladores não tiverem dólares de Hong Kong para cobrir suas posições vendidas, a autoridade monetária cobrará um alto prêmio para que eles possam cobrir essas posições.
O presidente mundial do HSBC, William Purves, defendeu que não é o momento para alterar a taxa de câmbio em Hong Kong em relação ao dólar norte-americano, apesar da forte queda da Bolsa do país.
"As autoridades de Hong Kong deixaram muito claro que o sistema será mantido"', disse ele.
"Esse sistema fixo tem sustentado a estabilidade".
Na avaliação de Purves, as autoridades monetárias de Hong Kong estão tomando a decisão acertada. "É um bom momento para comprar ações", declarou.

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