São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tecnologia salvará a Ásia

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O vírus da crise asiática continua à solta. No mercado, as imagens vão da escatologia mais vulgar e impublicável aos minitratados sociológicos de última hora sobre a derrocada final do "modelo asiático".
A verdade nua e crua é que ninguém entende como a turbulência se generalizou. Mas as apostas no contágio, Brasil incluído, voltaram com força.
As economias emergentes representavam 30% da economia mundial há sete anos. Chegam ao final da década com cerca de 40%. Eis a questão principal, com horizonte de longo prazo: a reestruturação produtiva da última década será revertida?
Acredito que não. Os problemas cambiais e creditícios, nas Bolsas e bancos, mostram a "gordura" acumulada com o crescimento. O ajuste, para quem seguir a dieta amarga, não destruirá a base produtiva que, na Ásia, foi construída visando às exportações.
É bom lembrar: um estopim da crise foi o encolhimento no mercado de chips e eletrônicos em 96. O Sudeste Asiático foi convertido numa planta integrada de produção desses bens de alta tecnologia para exportação. Mas não há indícios de que a demanda mundial por esses bens esteja em declínio estrutural. Ao contrário.
Ontem mesmo visitou a Folha o sr. Asahiko Isobe, presidente do Hitachi Research Institute. Ele trazia no bolso um aparelho do tamanho de uma calculadora e dois "smart cards" (cartões inteligentes). É o "dinheiro eletrônico".
A mutação tecnológica que está convertendo o mundo dos átomos num universo digital, virtual, mal começou. Se a onda de vídeo, computadores pessoais ou motores inteligentes parecia importante, imagine a migração de todo o dinheiro do mundo para a forma digital. O risco será, ainda, faltar capacidade de produção de chips nos próximos anos.
A Ásia é um celeiro eletrônico global. Passada a tormenta, quebrados os especuladores e corrigido o câmbio, a recuperação pode ser ainda mais "milagrosa" do que o crescimento recente. Mas não há milagre. Houve investimentos na construção da base industrial do século 21. Isso resiste à crise e, depois, estará mais forte.

Texto Anterior: Hong Kong leva efeito dominó às Bolsas
Próximo Texto: Para especialistas, AL não sofrerá efeitos graves
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.