São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Falta terror a 'O Enfermeiro'

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cia. dos Atores de Enrique Diaz, baseada no Rio, tem bela história em São Paulo. Desde "A Bao A Qu" no início da década, apresenta alguns dos mais instigantes espetáculos no palco paulistano, como nos casos também de "A Morta" e "Melodrama".
"O Enfermeiro", agora, está um pouco distante da produção anterior. É engenhosa, sobretudo na iluminação, trilha sonora e cenografia -uma "caixa" em que os atores estão como que sufocados no pesadelo da história.
A peça é a adaptação de um conto de Edgar Allan Poe, "The Tell-Tale Heart". É um terror gótico, como se anuncia.
Mas a produção cuidadosa e sombria, que espelha bem o ideal "gótico", não garante alcançar como nas vezes anteriores (ou em "Tristão e Isolda", do ano passado, que os paulistanos não tiveram chance de ver) o enlevo próprio de uma companhia de atores.
Foi a interpretação que tornou as peças tão envolventes e celebradas. Agora, talvez por tratar-se de outro diretor, talvez com maior apuro na imagem do que na atuação, o resultado é de um impacto algo frio e sobretudo visual.
O fato de buscar uma atmosfera soturna e tortuosa não pressupõe, muito pelo contrário, uniformidade de interpretação e ausência de ritmo. Isso é o que se percebe em cena, no desenvolvimento da trama e principalmente no protagonista, Marcelo Olinto.
Ele faz o enfermeiro que, sem motivo definido, exaspera-se até o ponto de matar um velho homem (feito pelo diretor César Augusto) de quem cuida e com quem convive sem interrupção.
Não há diálogo, propriamente, na adaptação, o que contribui para a inação predominante. Os três personagens em cena (um terceiro, não identificado mas que indica ser a Morte, é feito por Raquel Rocha) narram o que se passa na mente do enfermeiro.
E não ganha forma o "terror" buscado. Uma ambiência "grand guignol" transparece na cenografia, nos figurinos e, em parte, na trilha sonora, mas não é o bastante para tornar o espetáculo aterrorizante, como certamente era o "grand guignol" original.
(NS)

Peça: O Enfermeiro
Quando: sex e sáb, às 21h30; última apresentação domingo, às 20h30
Onde: Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Quanto: R$ 12

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