São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Militar culpa os franceses

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

Ahmed tem 24 anos e está nas Forças Armadas argelinas desde os 19. Como muitos de seus colegas, ele buscou na carreira militar uma forma de evitar a pobreza. Também como outros militares, vê na França a grande vilã da atual crise argelina.
Ele acredita que a miséria que atinge grande parte dos argelinos, a despeito dos US$ 13 bilhões advindos do comércio de combustíveis (petróleo e gás natural) todo ano, é algo derivado do período de colonialismo francês.
"Aqui, só entre nós, eu odeio os franceses. Não é à toa que eles explodem bombas no metrô de Paris", diz Ahmed. "Eles" são os extremistas islâmicos que atacam no país e, eventualmente, fora dele -como na capital francesa.
Ahmed condena veementemente os fundamentalistas, mas admite que a pobreza pode ser uma das responsáveis pela existência deles. "E a culpa é da França. Todo mundo tem algum 'herói' na família, alguém que morreu na primeira guerra da Argélia (a da independência, entre 1954 e 62, que fez quase 2 milhões de vítimas)."
"Depois, que país no mundo pode se desenvolver se ainda se contam mortos nas ruas?", afirma.
US$ 100 por mês
Ahmed ganha o equivalente a US$ 100 por mês e ocupa um posto equivalente ao de sargento da Gendarmerie, polícia militarizada sob jurisdição do Exército.
Usa regularmente um revólver calibre 38 e um fuzil de assalto AK-47, o famoso Kalachnikov russo. "Só que esse é feito sob licença aqui mesmo", diz, alisando a arma e mostrando, com ufanismo quase infantil, o crescente e a estrela marcados em seu cabo.
Durante os dias de eleição, ele está nas equipes que levam jornalistas ao sul do país. É casado, tem uma filha e diz estar contente com o "extra" -seu comandante prometeu uma bonificação "se tudo correr bem".
(IG)

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