São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Os "Ciros" do rio da Prata

CLÓVIS ROSSI

Buenos Aires - Se tudo der certo na costura das oposições brasileiras para uma frente comum para as eleições de 1998, será a versão política do "efeito Orloff", aquela história de o Brasil de amanhã ser a Argentina de hoje.
Na Argentina, já se formou a frente comum, em agosto. Chama-se, pomposamente, Aliança para o Trabalho, a Educação e a Justiça, mas o leitor pode tratá-la apenas por Aliança.
Reúne a UCR (União Cívica Radical), centrista e centenária, e a Frepaso (Frente País Solidário), um conglomerado basicamente de peronistas dissidentes.
Ou, comparando, vai dos Ciro Gomes argentinos aos que poderiam ser chamados de "direita do PT" (a esquerda pura e dura continua, por aqui, com seus próprios candidatos).
Está dando certo, eleitoralmente. Há consenso de que a Aliança, se se mantiver até a eleição presidencial de 99, será uma real alternativa de poder.
Mas, antes que os oposicionistas brasileiros se embriaguem com esse Orloff, um aviso: formar a Aliança e torná-la viável significou jogar pela janela a idéia, comum na América Latina, de que cada disputa eleitoral é reiniciar a história.
Diz Graziela Fernández Meijide, a senadora que encabeça a lista da Aliança na Província de Buenos Aires: "O eixo é construir um país normal, no qual a mudança do sinal ideológico de um governo não seja vista como uma possível catástrofe".
Detalhe: a senadora participa das reuniões da esquerda e centro-esquerda latino-americanas, idealizadas pelo trio Ciro Gomes, Mangabeira Unger e Jorge Castañeda, sociólogo mexicano. Acrescenta ela: "Não pode acontecer que, cada vez que se eleja um novo governo, tudo comece de novo".
Se a senadora me permite uma tradução livre e adaptada ao Brasil, quer dizer o seguinte: inflação baixa, privatizações e abertura da economia são fatos da vida irrecorríveis. Trata-se, pois, de cuidar do resto. Nesses termos, quem topa tomar o Orloff?

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