São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Realismo fantástico

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Todo dia, por volta das 17h, Pedro Malan fala rapidamente com FHC ao telefone, toma um suco de mamão e come duas bolachas de água e sal. É assim que ele reúne energia para dizer "não" e "vamos ver" para governadores, prefeitos e parlamentares que, invariavelmente, lhe pedem alguma coisa.
Na terça-feira, Malan jantou com líderes do PSDB que lhe perguntaram sobre as perspectivas de crescimento. E o que lhes disse? "Nada de especial. Só o que sempre digo para todo mundo, o tempo inteiro", admitiu para a Folha.
Na quarta, recebeu em audiência o prefeito Celso Pitta, que insiste num empréstimo de R$ 300 milhões da CEF e no aval federal para financiamentos junto ao BNDES, BID e Bird. Quanto à CEF, Malan sugeriu que Pitta batesse à porta dos bancos privados. Quanto aos empréstimos, ficou de estudar.
Ontem, quem esteve na agenda do ministro foi o governador petista Cristovam Buarque (DF), em busca de um aval para US$ 120 milhões do BID.
Malan vive falando em "processo", o que significa que todo pedido pode ficar para depois. Principalmente se ameaçar a projeção de um déficit fiscal de no máximo 4% do PIB em 98.
Mas se o governo vem fechando as torneiras dos bancos estaduais, da CEF e do Banco do Brasil, sempre haverá outras para salvar governadores no deserto, secos por verbas e atraídos pela miragem da reeleição.
O presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, chega na segunda-feira a Porto Alegre, depois da superprivatização de empresas elétricas, liberando mais algum para projetos legítimos de infra-estrutura, despoluição do rio Guaíba e prorrogação da linha de financiamento do setor de couros e calçados. Antonio Britto vai adorar e o poderoso PT local vai chiar.
Malan, olímpico, sai-se com essa: "Se o governo pudesse, não liberava um tostão antes das eleições. Ficaríamos livres das críticas e seria uma beleza para segurar o déficit. Mas o mundo não pode parar. Precisamos ser realistas".
Os atuais governadores agradecem, penhoradamente. Em 94, tiveram o real. Agora, têm o realismo.

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