São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Belo Antonio

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - No começo da década de 60 fazia sucesso em todo o mundo, Brasil inclusive, "Belo Antonio", filme de Mauro Bolognini estrelado pelo então galã, mas já excelente ator, Marcello Mastroiani.
A história é típica de comédia italiana, embora tenha como roteirista aquele que viria a se tornar um dos mais polêmicos autores do cinema mundial, Pier-Paolo Pasolini.
Mastroiani, o Antonio do título, é um marido bonitão que vê seu casamento com a também bonitona Claudia Cardinale desabar quando se torna vítima da impotência sexual.
Tão belo e tão inútil!
Foi por isso que, naquela mesma época, algum ser espirituoso resolveu dar o apelido de Belo Antonio ao recém-adquirido porta-aviões Minas Gerais. Já naquele tempo o grandalhão flutuante era motivo de chacota: belo e sem utilidade alguma.
Hoje em dia, como há mais de 30 anos, lá está o Belo Antonio ancorado no píer da Marinha da praça Mauá.
Vazio de seus aviões P-16, sucateados, nem tão belo, mas mais inútil do que nunca.
De vez em quando -ontem mesmo isso aconteceu-, o Belo Antonio sai para dar uma voltinha pela baía de Guanabara. Em geral solta grossa e espessa torre de fumaça negra, proveniente de suas máquinas antigas.
Toda essa história vem a propósito do ressurgimento da polêmica que começou em 1965 e opõe Marinha e Aeronáutica.
A primeira, pela legislação em vigor, pode cuidar do navio, mas não dos aviões. A segunda só pode operar os aviões, que deveriam estar no navio, mas não estão.
Agora, por intermédio de um relatório enviado a FHC, a Marinha mais uma vez tenta derrubar a proibição, para poder comprar e operar aviões no Minas Gerais, encontrando, como sempre, a oposição dos aviadores.
São situações como essa que levam cada vez mais à certeza de que devem mudar as Forças Armadas.
Por que não deixar essas bobagens de lado e efetivamente ajudar, com seus homens e equipamentos ociosos, esse país a sair do atraso?

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