São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chineses podem recuar para evitar crise

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O presidente Clinton, na véspera da visita aos EUA do presidente chinês, Jiang Zemim, e com os olhos postos na crise asiática, cobrou maior abertura da economia chinesa. Se quiser entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC), a China precisa mostrar mais boa vontade, melhorando "de forma contundente" o acesso de exportadores do resto do mundo a seus mercados.
O abalo na Bolsa de Hong Kong, na esteira da crise asiática, tende a assumir o caráter de um episódio passageiro na turbulência financeira de 1997 se os chineses atenderem ao apelo de Clinton. O tamanho do mercado chinês, se já é suficiente para justificar as vistas grossas para questões de direitos humanos, provavelmente será um argumento convincente na área comercial e financeira também.
Desde a devolução de Hong Kong à China os analistas perguntam quem é o rabo, quem é o cachorro e quem balança quem. Com reservas cambiais conjuntas de quase US$ 250 bilhões, o colosso chinês parece bastante preparado para enfrentar o ataque cambial. Mas se o pessimismo incluir questões comerciais ou relativas ao regime de abertura ao capital estrangeiro e proteção de "copyright", a crise será inevitável.
O banco J.P. Morgan acaba de divulgar um relatório que examina os riscos de contágio da China (publicado no dia 10 de outubro, antes da crise na Bolsa de Hong Kong). A pergunta é: será a China uma Tailândia daqui a cinco anos?
Os riscos estão no próprio sucesso. A entrada fabulosa de investimentos estrangeiros acaba criando bolhas de especulação com ativos locais. O sistema financeiro chinês é embrionário. Teme-se que a captação de recursos e mercados por meio de Hong Kong perca força. Se o governo chinês metesse a mão das reservas do território, viria crise de confiança.
Ainda assim, o J.P. Morgan conclui que a China tem condições de continuar com a política de abertura gradual e seletiva, coordenando a gigantesca entrada de recursos externos no país. Em particular, o governo chinês pode adotar a contenção do crédito para combater a bolha especulativa.
A China já passou por ciclos desse tipo e, mantendo protegido o seu sistema financeiro, evitou a propagação dos choques externos. Quando necessário, o governo segurou o consumo e o crescimento.
Adotando políticas cautelosas e barganhando a abertura do seu mercado aos estrangeiros, a China poderia recuar politicamente para se salvar economicamente.

Texto Anterior: Hong Kong se recupera, mas Coréia cai
Próximo Texto: Miller "antecipa" queda das Bolsas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.