São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Miller "antecipa" queda das Bolsas

'The American Clock' reestréia nos EUA

OSCAR PILAGALLO
EM NOVA YORK

Arthur Miller, considerado o maior dramaturgo americano vivo, deve ter gostado do tombo das Bolsas de Valores.
A derrubada geral das cotações demonstrou a atualidade temática de sua peça "The American Clock", que reestreou em Nova York, não longe de Wall Street, na mesma semana em que os preços das ações despencavam em todo o mundo.
"Os mercados nada representam, a não ser um estado de espírito", diz um dos personagens. Ele estava tentando explicar a inexplicável alta das cotações que antecedeu o "crash" de 1929.
Não que a crise de então seja comparável às fortes oscilações atuais, mas a fala poderia ser colocada, hoje, na boca de qualquer analista mais cético sobre o papel de termômetro da economia que as Bolsas representam.
"O dinheiro é como um pássaro assustado", diz outro personagem. "Ao menor farfalhar das folhas ele voa para outra árvore." O pássaro desta semana chamou-se Hong Kong.
Escrita no início dos anos 70, a peça ganhou forma final em 1984, pouco antes do colapso de 1987, quando estava em cartaz em Londres. A oportunidade é algo comum às montagens.
A atual, de responsabilidade da Signature Theatre Company, é fiel ao gênero vaudeville, opção do autor para montar um painel da sociedade americana nos anos 30.
"O caos mostrou a impotência de soluções individuais diante de uma crise tão devastadora", diz Miller numa introdução escrita mais de uma década após a peça.
Mas não escapou a Miller -um adolescente de 14 anos em 29- o fato de o caos ter gerado também muito humor e otimismo, o que serve de contraponto à discussão do fracasso do Sonho Americano, um dos assuntos recorrentes de Arthur Miller. Ou de consolo, para quem perdeu dinheiro nesta semana.

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