São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Privatização agita a sucessão gaúcha

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerado o Estado mais politizado do país, o Rio Grande do Sul acena com uma sucessão que terá como pontos de discussão temas que não costumam empolgar em palanques: privatização e incentivos fiscais para empresas.
Eleito em 94 com uma pequena vantagem sobre o petista Olivio Dutra, o governador Antonio Britto (PMDB) sofre violenta oposição da esquerda local nos dois assuntos que reacenderam a polarização tradicional da política gaúcha.
"Britto disse na campanha de 94 que não faria privatizações, mentiu, e faz para grandes empresas as doações que nega para pequenos e médios projetos agroindustriais", ataca Dutra.
O petista, que disputa no PT com Tarso Genro o direito de enfrentar o atual governador em 98 (leia texto abaixo), refere-se aos incentivos e isenções concedidos principalmente para que a GM e a Ford instalassem montadoras no Estado.
Derrubado por uma forte gripe na semana passada, Britto transferiu para o secretário de Desenvolvimento, Nélson Proença (PMDB), a tarefa de responder ao provável adversário.
"O PT não tem pudor de dizer coisas estapafúrdias", afirma Proença sobre a acusação de seu partido ter omitido no palanque de 94 que privatizaria estatais.
Por trás da discussão sobre uma possível omissão está o dinheiro das privatizações, que pode alavancar a tentativa de Britto de reverter o quadro atual, favorável a Dutra e Genro.
Só com a privatização recente de duas companhias de distribuição de energia, o Estado arrecadou R$ 3,145 bilhões. Parte do dinheiro, diz Britto, será investido em obras.
Além da férrea defesa do dogma antiprivatização que cadencia o discurso do PT, o partido ataca a visão de desenvolvimento adotada pelo PMDB local, que na verdade justifica o título de "o mais tucano dos peemedebistas" pela proximidade de Britto com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Proença vê erro no diagnóstico petista, que aponta um possível abandono dos pequenos e médios produtores em troca de incentivos a grandes grupos econômicos.
"O projeto de modernização da economia não poderia viver só da agricultura", diz Proença. O secretário é responsável pela polêmica negociação que levou as montadoras até o Estado e admite que a matriz produtiva baseada em pequenas e médias empresas e projetos é "mais justa", mas faz a ressalva.
"O importante, hoje, é crescer o mercado, e uma grande empresa alavanca a cadeia produtiva e gera empregos", defende.
O governo gaúcho admite que, além de outras vantagens, "emprestou" US$ 250 milhões à GM.
"É inadmissível para um governo sério os subsídios altos para a GM e a Ford quando se sabe que o setor automotivo é um dos que geram menos empregos", diz Genro.
O Rio Grande do Sul foi o único Estado que na eleição presidencial de 94 deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. O PT local venceu as últimas eleições municipais em Porto Alegre e em Caxias do Sul, as duas maiores cidades do Estado.
Porto Alegre, que vive a terceira administração petista consecutiva, não é, para o PMDB gaúcho, o espelho de gestão que os adversários apregoam.
"O PT mediocrizou Porto Alegre e sobrevive de uma bela receita e de um marketing que não revela, por exemplo, que 80% do ensino fundamental na cidade é assegurado pelo Estado", dispara Proença.
"O que o Britto quer é esconder que esfacelou o Estado para entregá-lo ao controle privado", devolve Dutra.
O PT escolheu o Rio Grande do Sul como sua prioridade eleitoral em 98. FHC também listou a vitória de seu candidato no Estado como importante para seu possível segundo mandato.

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