São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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SP tem 5.000 grávidas com HIV por ano

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de mulheres grávidas com o vírus HIV no Estado de São Paulo já chega a 5.000 por ano. Elas representam cerca de 1% do total de gestantes que têm filhos na rede pública de saúde.
A estimativa foi feita com base em pesquisas regionais realizadas pela Secretaria de Estado da Saúde.
Desse total de gestantes com HIV, entre 400 e 1.300 bebês vão nascer com Aids. Desde o início da epidemia, o total de notificações de Aids em crianças era de 2.000.
O risco maior ou menor de uma mãe passar o HIV para o filho -de 8% a 28%- depende do acompanhamento e da medicação oferecidos na gravidez e na hora do parto.
Mulheres soropositivas ou com Aids, que estiveram reunidas no final de semana em Juquitiba (Grande São Paulo), disseram que a rede pública não tem leitos suficientes e não está preparada para atender essas gestantes.
"Quando chegam ao hospital, em trabalho de parto, algumas mulheres preferem esconder que são soropositivas para garantir atendimento", diz a enfermeira licenciada Edna Maria Lopes, 40, uma das coordenadoras do encontro de Juquitiba e da Apta, uma ONG de São Paulo.
Falta de remédios
A professora Nair Brito, que dirige a Rede Paulista de Mulheres com HIV-Aids, diz que poucos hospitais contam com a medicação necessária (AZT injetável para a mãe e em solução para o bebê) e que gestantes com Aids têm maior dificuldade em conseguir um leito.
"Nenhuma mulher quer esconder que é soropositiva, pois sabe que agindo assim aumenta os riscos para ela, para o bebê e para todo mundo", diz Nair.
"Mas para dizer ela precisa ter a garantia de que terá um leito e de que não será discriminada."
Nair relata o caso de Noêmia (o sobrenome não foi revelado), que há três semanas teve um filho num hospital da Grande São Paulo. "Ela estava informada da importância de contar a verdade no hospital, mas preferiu esconder sua doença com medo de acabar ficando sem leito."
A Secretaria da Saúde diz que a falta de leitos vem sendo reduzida e que profissionais estão sendo treinados para dar atendimentos nesses casos.
Os dados da Secretaria da Saúde estão sendo levantados por meio dos testes anti-HIV realizados em gestantes. Quase todos os serviços do Estado que acompanham grávidas já oferecem esse exame.
Em algumas regiões do Estado de São Paulo, como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba e áreas da Baixada Santista, pesquisas mostram uma soroprevalência de 1,6% a 2,0% entre as gestantes.
Em outras regiões, a taxa cai para 0,5%. Na média, a secretaria trabalha com um índice de 1%.
Com cerca de 490 mil partos realizados pelo SUS no ano passado no Estado, estima-se que 4.900 gestantes estavam com o vírus HIV ao dar à luz.
Este número pode passar de 6.000, pois se calcula que outros 140 mil partos por ano sejam realizados por convênios.

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