São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Mães mantêm-se informadas

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Jussara tem 20 anos, está no nono mês de gestação e tem Aids. Será seu quarto filho. Os dois primeiros estão com o pai. O terceiro, Kinderly, tem dois anos e está com ela. Nenhum deles tem o HIV.
Ela diz que só soube da Aids em maio passado, quando já estava no quarto mês. Seis meses antes, ela tinha feito um teste anti-Aids no hospital Eleonor Mendes de Barros, depois que sofreu um aborto.
"Não fui buscar o exame. Quando voltei, grávida de novo, eles me informaram. Eu queria dar minha filha, ir embora e acabar com a vida, mas eles me consolaram."
Jussara recebe AZT desde o quinto mês e passou a saber muita coisa sobre Aids. "Meu CD-4 (células de defesa) está alto. Na Nova Cachoerinha, onde vou ter o bebê, vou tomar o AZT no soro; meu filho vai nascer com os meus anticorpos, mas depois vai ficar bom."
Jussara diz que o pai da criança é um vendedor de livros que decidiu cuidar dela. "Ele não tem Aids e, quando soube que eu tinha, aconselhou-me, ajudou-me muito. Agora a gente tem que usar camisinha para tudo, eu tenho medo até de beijar."
Maria Claudia da Silva, 25, sabe que tem Aids há quatro anos e teve o segundo filho há dois meses. O primeiro vive com a mãe dela.
"Eu sempre me preocupei, mas o rapaz teve um problema com a camisinha. Eu sabia que não podia ter filho e que ele pode nascer doente, mas quando percebi a gravidez, não dava mais para tirar. O pai desapareceu."
O filho, John Kennedy da Silva, 6, nasceu no Amparo Maternal, um abrigo para mães solteiras em São Paulo.
Sua mágoa maior é com a família: o irmão, que a expulsou de casa quando ficou grávida, a mãe, que não vem vê-la, e a irmã, que não escreve. Claudia hoje vive numa casa de apoio da Alivi, em Mairiporã (SP). "Não ter o amor da família é pior que a Aids", diz.
(AB)

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