São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Inglês é mais usado para nomear áreas dos prédios

CLEIDE FLORESTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso de estrangeirismos para nomear ambientes e edifícios em lançamentos imobiliários na cidade de São Paulo foi objeto de estudo de duas pós-graduandas da USP (Universidade de São Paulo).
Zara Peixoto Vieira, 42, que analisou nomes dos ambientes em 200 folhetos, chegou à conclusão de que essa nomeação de ambientes é um instrumento usado pelas construtoras para associar os edifícios à praticidade e à modernidade (veja exemplo no quadro ao lado).
A pesquisa mostra que 76% das nomeações ocorrem em lançamentos com três dormitórios, dos quais 84% ficam na zona sul de São Paulo. "Isso significa que o público-alvo desses empreendimentos pode ser considerado como de classe média", acrescenta Zara.
Os edifícios de alto padrão não usam terminologias estrangeiras. A maioria dos ambientes, de acordo com a pesquisa, é mencionada nos folhetos em português.
Mais do que dar novos nomes, ela afirma que essas terminologias acabam incorporando hábitos à família. Como exemplo ela cita o termo "family room", que sugere o uso da TV na copa, sendo que o costume das pessoas, por muitos anos, sempre foi a presença do eletrodoméstico na sala.
Uma curiosidade, segundo Zara, é que os folhetos na zona leste usam terminologia em português, como churrasqueira, que em outras regiões da cidade aparecem como "space grill". "A zona leste se mostrou mais tradicional."
Nome dos prédios
Já no que diz respeito aos nomes dos prédios, a impressão de que o inglês também é o idioma mais usado foi contestada pelo resultado da pesquisa da pós-graduanda Maria José Matos, 26.
No seu trabalho, depois de recolher 168 nomes de lançamentos, ela chegou à conclusão de que o italiano aparece como o idioma mais usado em quatro regiões de São Paulo: oeste, leste, norte e sul.
"A língua estrangeira, no Brasil, é associada a uma classe social diferenciada, com status."
Como exemplo, Maria José cita o edifício "Nelson Tower", na zona oeste de São Paulo. "O 'Tower' parece ter sido acrescentado ao nome apenas para requintá-lo, visto que Nelson é um nome próprio", exemplifica.
Essa pesquisa é a segunda análise de folhetos que a dupla realiza. Ela faz parte do trabalho de mestrado que estão apresentando, na área de linguística e semiótica geral, na universidade.
Na primeira pesquisa, concluída no ano passado, elas analisaram como as construtoras criavam os folhetos para atingir seu público-alvo e qual era a diferença de linguagem de região para região.

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