São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Brasil tenta colocar satélite em órbita hoje

MAURÍCIO TRUFFANI
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Após 17 anos de desenvolvimento, dos quais sete anos de atraso com relação ao cronograma inicial, e um investimento de US$ 270 milhões, o Brasil tenta mais uma vez colocar por conta própria um satélite no espaço e se tornar o nono país do mundo a fazê-lo com base, lançador e satélite próprios.
Está prevista para hoje de manhã, no Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão, a estréia do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Ele deverá colocar a cerca de 700 km de altitude o SCD-2A, a versão de testes do SCD-2, o segundo satélite brasileiro.
Com um custo unitário de US$ 6,5 milhões, o VLS acomoda aproximadamente 8km de fios e 70 mil componentes eletrônicos em 19,5 metros de altura e cerca de 50 toneladas de massa. Se tiver sucesso, ele será apresentado ao mercado espacial como uma alternativa econômica para o lançamento de satélites de 100 kg a 350 kg em órbitas de 200 km a 1.000 km de altitude.
Idealizada nos anos 70, a Missão Espacial Completa Brasileira previa para 1990 o lançamento do primeiro satélite brasileiro -o SCD-1- pelo primeiro lançador do país. Mas o VLS foi visto por países liderados pelos EUA como um foguete de fins bélicos disfarçado, e isso gerou boicotes à venda de componentes para o Brasil.
Somados aos atrasos nos repasses de recursos, esses boicotes dificultaram a conclusão do lançador no prazo previsto. Houve também alguns chabus nos testes com versões intermediárias do VLS, que deixaram ministros militares olhando desconsolados para o céu. Mas isso também ocorreu em outros países.
Alguns especialistas atribuíram parte dos atrasos do VLS à concepção de seu projeto, que prevê sete propulsores, desenhados para funcionar em quatro estágios, dos quais o primeiro tem quatro foguetes. Isso o torna mais pesado e mais complexo que os lançadores formados por menos propulsores.
Praticamente concluído em 1988, o satélite SCD-1 esteve prestes a ser colocado em órbita por algum lançador estrangeiro no ano seguinte. Seu cronograma foi deliberadamente retardado em 1989 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão civil encarregado de produzi-lo. A decisão "livrou a cara" temporariamente do programa militar de construção do VLS, muito mais complexo e sofisticado, conduzido pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA).
Disponível em 1992, o SCD-1 não escapou de ser lançado no ano seguinte por um propulsor estrangeiro: um foguete Pegasus norte-americano a um custo de US$ 14 milhões. A comparação com o custo unitário de US$ 6,5 milhões do VLS está sendo um dos principais argumentos da Agência Espacial Brasileira (AEB) na apresentação comercial do lançador brasileiro.
Mas a AEB está sendo cuidadosa. Afinal, trata-se de um ensaio, destinado a colocar em órbita o modelo de testes do satélite SCD-2, este sim feito para dar certo. E mesmo que o VLS dê certo hoje, o SCD-2 deverá ter no próximo ano o mesmo destino que teve o SCD-1: ser lançado pelo Pegasus.

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