São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Colômbia desafia violência em eleição

Grupos de esquerda boicotam votação

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As eleições regionais e municipais de hoje na Colômbia terão uma sexta cédula, incorporada pelas organizações não-governamentais (ONGs) às cinco que registrarão os votos em prefeitos, vereadores, conselheiros, governadores e deputados departamentais. A sexta cédula, segundo seus idealizadores, parte da "angústia insuportável de uma guerra que não acaba nunca" e equivalerá a um "plebiscito nacional pela paz". Será um voto contra a guerra, portanto, dirigido a guerrilheiros, a paramilitares pagos sobretudo por narcotraficantes e fazendeiros -tidos como responsáveis por 48% da violência colombiana- e também ao governo e aos militares.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) foi oficialmente convidada a mandar observadores e aceitou. Embora se trate da escolha de autoridades de segundo plano, essas eleições têm a importância de reafirmar a continuidade do processo democrático mantido a duras penas desde os anos 50. Realizá-las tornou-se questão de honra para o governo do presidente Ernesto Samper, diante do anúncio feito em abril pelos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN) de que iriam sabotá-las. Foram assassinados 35 candidatos, sequestrados 200, e mais de 1.100 desistiram do pleito, em pânico.
Em pelo menos 126 distritos municipais não há candidatos disponíveis, o que deixa cerca de 1,2 milhão de eleitores sem nomes em quem votar. Nesses distritos as novas autoridades terão de ser designadas. O mais provável é que os militares se tornem os beneficiários da selvageria política e consigam ampliar seus poderes. Em visita à Colômbia, na esteira da incursão de Clinton em países sul-americanos, o general Barry McCaffrey, chefe da agência antidrogas dos Estados Unidos, disse que 15 mil "narcoguerrilheiros", sustentados por "milhões de dólares", ameaçam a "estabilidade democrática" do país. Ele referendou a entrega de novo carregamento de material bélico americano no valor de US$ 30 milhões.
No Orçamento para 1998, de US$ 38 bilhões, caem os gastos sociais e aumentam os militares. As Forças Armadas receberão 3,6 bilhões, ou 4,5% do Produto Interno Bruto, índice altíssimo num continente no qual verbas de defesa se situam entre 1% e 2% em média.
Samper carimbou as eleições de domingo como sendo "voto pela paz, pela vida e pela liberdade", em meio a trágicas constatações de que as guerrilhas, velhas de mais de 30 anos, continuam em condições de enfrentar todo o aparato governamental de segurança. O presidente tenta completar o mandato, que se esgota em agosto de 1998, mas apresentou plano de proteção da campanha eleitoral vagamente baseado em reforços policial e militar, de imediato colocado à beira do ridículo com os assassinatos de um senador, seu amigo pessoal, e de um candidato a prefeito muito popular em atividades esportivas. Em setembro escapou da morte por milagre o próprio comandante das Forças Armadas, general Manuel Bonnet.
Cinco pré-candidatos às eleições de 1998 duvidam que a ofensiva "contra a violência da esquerda e da direita" dê em alguma coisa e possa proteger a campanha presidencial. Tampouco acreditam na eficiência de maior dureza legal, como decretação de estado de emergência. "O que é preciso é o exercício apropriado da autoridade", diz um dos prés, Jaime Arias Ramirez, do Partido Conservador (oposição). Mesmo partidários de Samper, como o senador Julio Cesar Guerra, avisam que ele terá de renunciar, "se não for capaz de governar".

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