São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Mafioso usa Justiça contra seus rivais

ANDREW GUMBEL
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA

Nos últimos quatro anos, um chefão da Máfia depois de outro foi caçado e preso na Sicília. Recentemente, porém, surgiram indícios de que a Máfia nunca chegou a perder o controle da situação. Está agora infiltrando os esforços contínuos feitos pelo Estado para combater o crime organizado.
Em janeiro de 1993, a polícia italiana prendeu Balduccio di Maggio, acusado de delitos menores. Ele admitiu ser integrante da Cosa Nostra, e levou a polícia até o chefe do clã Corleonesi, "Tot•" Riina, a quem servira como chofer e "ajudante-geral".
Di Maggio delatou um encontro secreto que testemunhara seis anos antes entre Riina e Giulio Andreotti, no qual os dois haviam se beijado. Andreotti, que concluíra pouco antes seu sétimo mandato como primeiro-ministro, foi levado a julgamento, ainda em curso.
Por que Di Maggio testemunhou contra a Máfia? Na época, os jornais anunciavam que ele se sentira enojado pelo estilo homicida de Riina ou que teria sido discriminado na organização por ter trocado sua mulher por uma amante.
Agora vem à tona uma teoria mais sinistra: Di Maggio foi manipulado por outro líder do clã Corleonesi, Bernardo Provenzano, cujo objetivo era assumir o controle da Cosa Nostra.
Em lugar de declarar guerra ao Estado, a estratégia de Provenzano tem sido a de infiltrar o Estado e envenenar o sistema desde seu interior. Tudo indica que sua principal arma tem sido feita de homens como Di Maggio. Várias figuras políticas, como Giulio Andreotti, procuraram desvalorizar os depoimentos desses mafiosos vira-casacas, ou "pentiti" como são conhecidos.
Di Maggio foi preso outra vez na semana passada, acusado de ser o mandante de uma série de assassinatos na região de Palermo (sul da Itália). A reação de Andreotti foi de reafirmar que homens como esses não mudam nunca. Na ótica dos promotores, Di Maggio faz parte de estratégia que visa afundar toda a operação de combate à Máfia.
Guido La Forte, vice-promotor chefe de Palermo, avisou: "Mentes refinadas vêm implementando um plano sofisticado. Usam Di Maggio para eliminar os elementos indesejáveis na organização, e por outro lado, desestabilizam o sistema, ao desacreditar aqueles que colaboram com a Justiça".
As evidências indicam que Provenzano montou uma teia complexa de contatos no interior da polícia e do governo, estabelecendo uma "pax mafiosa" para prosseguir traficando drogas e armas sem ser perturbado.

Tradução de Clara Allain

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