São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Uma dura realidade

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A semana foi marcada por discussões em torno do desemprego. Na verdade, o Brasil continua inflacionado em matéria de taxas de desemprego. Há números para todos os gostos.
Para os governantes, agradam mais os números do IBGE, que situam o desemprego no Brasil em torno de 6%, bem abaixo da média da Europa -12%. Para a oposição, são mais atraentes os resultados que indicam 16% de desocupados na região da Grande São Paulo.
A imprensa, como vende melhor os desastres do que as realizações, prefere os números maiores. Os governos, como precisam sustentar sua credibilidade, preferem os menores.
E a população o que prefere? Evidentemente, ela prefere os empregos. O povo sabe que os empregos estão escassos e que se tornaram os bens mais preciosos nos dias atuais.
Gerar empregos não é fácil. Isso exige investimentos para criar novas empresas e novos postos de trabalho. E exige também trabalhadores preparados para preencher as vagas.
No campo do crescimento, o Brasil está devagar. O Ipea espera um crescimento de 4% para este ano quando, na verdade, precisamos do dobro disso para acomodar a população que precisa trabalhar.
No campo da educação, as exigências se elevaram muito em decorrência da transformação dos métodos de produção. Os sindicatos se queixam que as empresas demandam, pelo menos, o primeiro grau completo. No setor industrial, isso é o mínimo para a maioria das ocupações. Sem educação, os trabalhadores não conseguem ler os manuais de instrução e operar as máquinas sofisticadas que dominam a produção atual.
Investimentos e educação constituem o binômio básico para se equacionar o problema de emprego. Espera-se que este país readquira a capacidade de crescer 6%, 7% ou 8% ao ano. No momento que isso acontecer, a economia será desamarrada, novas empresas surgirão e com elas novas vagas. Para tanto as reformas fiscal, tributária, previdenciária, administrativa e trabalhista são essenciais.
A educação, em si, não cria vagas. Mas é ela que promove o ajuste entre trabalhadores e vagas.
Como a educação é um processo demorado, o país tem de atacar esse problema desde já e em várias frentes. Uma delas é a do ensino fundamental. Outra é do ensino profissional.
Nos dois campos o Brasil está muito atrasado. Já comentei, em artigo anterior, o problema do ensino fundamental. Gostaria de concentrar, agora, na área da formação profissional.
As escolas federais voltadas para o ensino profissional formam apenas 80 mil alunos por ano. Isso é muito pouco. O Senai que treina em cursos rápidos cerca de 2 milhões de pessoas, forma apenas 250 mil nos cursos de longa duração. Isso também é pouco.
O Brasil tem uma força de trabalho de quase 75 milhões de pessoas, sendo que uns 13 milhões estão no setor industrial. Só as necessidades de reposição (devido a morte e aposentadoria) já ultrapassam em muito o que vem sendo preparado pelas escolas atuais -sem falar na necessidade de atualização dos conhecimentos.
Num quadro como esse, fica claro que as instituições atuais, especialmente as do governo, não darão conta do recado. Está na hora de ampliá-las aproveitando o que cada uma já acumulou de experiência nesse campo e, sobretudo, melhorar a eficiência na aplicação dos recursos. A tarefa é imensa e precisa ser iniciada já, pois educar é uma tarefa muito complexa e bastante demorada.

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