São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997 |
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Caldo de galinha arrepiada
XICO SÁ Quando a ultra-sonografia ainda era apenas uma lenda futurista, a melhor e mais eficiente maneira para saber se viria ao mundo um macho ou uma fêmea era a simbologia do coração de uma galinha.A futura mãe levava ao fogo, para cozinhar, o coração da galinha, tendo antes o cuidado de abrir uma das extremidades do pequeno órgão. Se depois de cozido o coração continuasse aberto, nasceria uma menina. Caso contrário, seria menino, podia mandar bordar de azul todo o enxoval. Era o tempo das parteiras, quando a gente nascia em casa, só para depois virar beatnik, cigano, aventureiro, ganhar o mundo e correr para ganhar a vida em São Paulo. Esse mundão de crendices e farta simbologia acaba de ganhar um bom registro, com toda a sua carga de beleza e fragmentos de trevas medievais. É o kit "Como Nasce um Cabra da Peste", do escritor e folclorista Mário Souto Maior, composto de um livro (reeditado) e de um CD, novíssimo, com o próprio autor, narrando as historietas, quase fábulas nordestinas. Colega de Gilberto Freyre na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, Souto Maior reuniu uma boa coleção de casos. O livro e o disco abarcam desde o palpite sobre o sexo da criança até o recurso utilizado para a mãe do dito "cabra da peste" deixar de enjoar do marido, na gravidez. Nesse caso, receita, o melhor remédio é "dar para ela cheirar uma ceroula usada por ele". Antes, porém, é recomendável que a mulher despache o infeliz para dormir fora do quarto, no corredor da casa, em uma rede. Para que nasça mesmo um "cabra da peste", receita ainda a cartilha popular, é quase obrigatório que a futura mãe engula, sem fazer cara feia, dias antes do parto, um caldo de "galinha arrepiada". Daquelas galinhas enjoadas, arruaceiras, que gritam mais que a Nina Hagen (lembra da Nina Hagen?) e-mail:xico@uol.com.br ONDE ENCONTRAR Livro e CD "Como Nasce um Cabra da Peste": pedidos para "Biblioteca O Curumim Sem Nome", tel./fax. 085. 279.2259 (Fortaleza), ou 20-20 Comunicação e Editora, tel./fax. 081.228.5674 (Recife). Texto Anterior: Educação Próximo Texto: Pintura autoral com tempero baiano Índice |
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