São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comprando sem ir às lojas

HELCIO EMERICH

Qual seria o futuro das cadeias e lojas de varejo se as donas-de-casa começassem a fazer telecompras usando seus computadores domésticos?
A perspectiva de que um dia os consumidores possam aderir às "compras virtuais" foi um dos assuntos colocados na pauta dos pesquisadores do escritório de consultoria de varejo Andersen Consulting's, de Chicago. O objetivo desse exercício de futurologia não foi apenas, como pode parecer, alertar ou orientar as redes de varejo norte-americanas, mas principalmente fazer a cabeça dos executivos e marqueteiros da indústria norte-americana de produtos de consumo, gente que, segundo a Andersen, "precisa começar a pensar no que vem por aí".
A comercialização de produtos de uso doméstico nos Estados Unidos está à beira de um ataque de saturação: há marcas e produtos demais, superposição dos canais de distribuição e a cada dia surgem novos modelos e formatos alternativos de vendas no varejo (o Brasil, diga-se de passagem, caminha para uma situação igual). E a indústria do setor não está preparada para a possibilidade de que um dia os consumidores deixem de ir pessoalmente às lojas e supermercados e passem a comprar apenas teclando os seus "kitchen computers".
A Smart Store é o centro de pesquisa e desenvolvimento da Andersen para negócios de varejo e o seu show-room futurista, inaugurado em 1989, já recebeu mais de 50 mil visitantes de 5.000 companhias diferentes. Um dos estandes do centro, por exemplo, reproduz o que seria uma cozinha residencial do próximo milênio, inteiramente informatizada com terminais de computadores conectados a cadeias de varejo, conjugando portanto o "interactive home shopping" com o "home delivery".
Numa outra dependência do centro, pode-se ver a contrapartida da loja de produtos alimentícios do futuro, exemplificada por um "departamento italiano", onde tudo, desde a comida pronta, os frios e os enlatados até os vinhos e os temperos, está estrategicamente agrupado para facilitar a compra. Há ainda espaços destinados à demonstração dos vários recursos tecnológicos que poderão estar à disposição das lojas nos próximos anos para aumentar sua eficiência e reduzir custos, desperdícios e o tempo de atendimento aos clientes.
Definitivamente, as especulações da Andersen não são uma brincadeira de assessoria para assuntos aleatórios. Especialistas norte-americanos em negócios de varejo estimam que por volta do ano 2004 cerca de 28% dos consumidores norte-americanos estarão adquirindo produtos de limpeza, de higiene pessoal, alimentos e bebidas pelo sistema "home shopping", o que significa que eles vão comprar algo como US$ 50 bilhões por ano sem sair de casa.

Helcio Hemerich é jornalista, publicitário e vice-presidente da agência Almap/BBDO.

Texto Anterior: Globalização anima fusões
Próximo Texto: Folha apresenta estratégia na "Arena do Marketing"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.