São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Aliança bate Menem com folga inesperada

CLÓVIS ROSSI

CLÓVIS ROSSI; LÉO GERCHMANN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Pesquisa de boca-de-urna dá à oposição 16,6 pontos de vantagem nas eleições legislativas de ontem

LÉO GERCHMANN
As pesquisas de boca-de-urna indicam que o presidente argentino, Carlos Menem, sofreu uma derrota ainda mais contundente do que o previsto nas eleições legislativas de ontem, no que seria seu primeiro tropeço eleitoral desde que se elegeu, em 1989.
No cômputo nacional, o PJ (Partido Justicialista, nome oficial do peronismo) teria 16,6 pontos percentuais menos do que a oposição (51,2% x 34,6%), de acordo com os dados da rede América de TV.
Essa conta soma os votos dados à Aliança, a coalizão oposicionista, nos 14 distritos eleitorais em que se constituiu (41%), e também os votos a cada um dos dois partidos que a compõem, nos 10 restantes.
Nesses, a UCR ficou com 7,1%, e a Frepaso, com 3,1%.
Mas o que dá contornos mais sérios à derrota peronista é o fato de a boca-de-urna indicar vitória da Aliança também na Província de Buenos Aires, a mais importante e de maior eleitorado (quase 38% do total nacional de eleitores).
A Província parecia um inexpugnável bastião peronista. Mas a boca-de-urna da América dá 53% para a Aliança e 38,4% para o PJ. Da mesma forma, o peronismo teria perdido em Santa Fé, outro de seus feudos eleitorais tradicionais.
Os resultados oficiais só começariam a ser divulgados depois do fechamento desta edição.
Menem minimiza
Antes mesmo da divulgação das pesquisas de boca-de-urna, Menem tratou de minimizar a importância do pleito de ontem, destinado a renovar 127 das 257 cadeiras da Câmara de Deputados.
Depois de passar a semana dizendo que a eleição seria "um plebiscito" sobre o modelo econômico que implantou no país, Menem mudou o discurso: ao votar em sua Província (La Rioja), disse que se tratava de "eleger nada mais do que deputados".
Completou: "Muita gente pensa que (esta eleição) é um passo prévio para 1999 (a data da eleição presidencial). Não creio que seja assim".
Prometeu que os dois anos que lhe restam de mandato "serão dois anos brilhantíssimos".
Apesar das declarações do presidente, o fato é que, antes mesmo de se iniciar a apuração, já estava evidente que o pleito desatara a corrida para as candidaturas presidenciais.
No peronismo, o candidato que se considera natural, o governador da Província de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, prepara-se para acentuar as diferenças entre ele e Menem.
Ainda mais que Duhalde atribui a derrota ao fato de o presidente ter "nacionalizado" a campanha, no seu período final, quando o governador preferia transformá-la em plebiscito sobre seu governo, e não sobre o de Menem.
Duhalde orgulha-se do que chama "modelo bonaerense" (de Buenos Aires), em que o gasto em assistência social chega a US$ 2 milhões por dia, ao contrário do que ocorre no plano nacional.
A derrota em Santa Fé fere de morte o candidato preferido de Menem, o senador Carlos Reutemann, ex-piloto de Fórmula-1 e ex-governador dessa Província.
Na oposição, o problema parece ser inverso ao do peronismo, ou seja, excesso de candidatos, decorrência direta da vitória apontada pelas pesquisas.
"Nosso maior desafio é impedir que haja um torneio de vaidades em torno da candidatura presidencial para 99", admite Carlos "Chacho" Alvarez, principal líder da Frepaso (Frente País Solidário).
A Frepaso uniu-se à UCR (União Cívica Radical, o mais antigo partido argentino) para compor a Aliança, o conglomerado oposicionista.
O coordenador da Aliança, o ex-presidente Raúl Alfonsín, anunciou para quinta-feira a primeira reunião para começar a preparar a plataforma para a disputa presidencial de 1999.
Logo depois de votar, Alfonsín foi internado no Hospital Italiano, com forte gripe e febre de 40 graus. Fica 24 horas por lá.

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