São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Apuração começa sob influência da Ásia

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Mais ou menos no momento em que se divulgavam, na Argentina, os primeiros resultados da eleição, estava começando a funcionar a Bolsa de Valores de Hong Kong, cujos números, desde o temporal de quinta-feira, passaram a ser tão ou mais importantes do que o placar eleitoral.
Motivo: a Argentina tem um sistema cambial similar ao de Hong Kong e, se a paridade do dólar de Hong Kong com o norte-americano for rompida, "a Argentina seria um alvo atraente para os especuladores". É o que diz Charles Blitzer, chefe de mercados emergentes da firma Donaldson, Lufkin e Jenrette (EUA) ao matutino "Clarín".
Em Hong Kong, a moeda mantém com o dólar paridade há 14 anos; na Argentina, há 6,5 anos. Essa âncora cambial foi decisiva para derrubar a inflação.
Essa semelhança cambial levou todos os jornais de ontem a dividir atenções entre o resultado da eleição e a evolução da crise asiática.
Há um virtual consenso entre economistas e consultores ouvidos pelos jornais argentinos e pela Folha de que Hong Kong resistirá ao ataque contra sua moeda, o que reduzirá os eventuais estragos do chamado "efeito dragão".
Mas a consultoria Alpha já preparou um estudo em que diz que o fato de moedas de países líderes da Ásia (como Hong Kong e Taiwan) estarem sendo atacadas "começa a gerar algum temor adicional de contágio em outras economias".
Um tom ainda mais sombrio vem de Londres, na voz de Nigel Newmam, chefe do departamento econômico do Barclays Bank (Londres), que disse ao "La Nación": "Cedo ou tarde, Hong Kong vai ter de desvalorizar e, então, a pressão se dirigirá aos mercados emergentes da América Latina".
Sem chegar a uma previsão tão apocalíptica, o economista Guillermo Calvo diz que crises como a asiática "podem acontecer em qualquer parte do mundo que tenha esse tipo de capital volátil".
Detalhe: Calvo passou a ser tido como uma espécie de bruxo econômico, porque foi um dos raros economistas a prever a crise mexicana de 94, que bateu fortemente na Argentina, causando um retrocesso econômico de 4,6% no ano seguinte.
(CR)

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