São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Empresa utiliza o conceito de 'família'

ERNESTO KLOTZEL
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Airbus Industrie, fundada em 1970, conta com quatro parceiros principais: a Aerospatiale (França), a Daimler-Benz (Alemanha), a British Aerospace (Inglaterra) e a Casa (Espanha).
A elas se agregaram, em determinados projetos, a belga Belairbus e a holandesa Fokker.
Projetos futuros -como os do AE-316, para 100 passageiros- terão como sócios a nova Airbus Industrie Asia e fabricantes da China e de Cingapura, além da italiana Alenia.
Esta última também participará do consórcio -juntamente com a Belairbus, Fokker Aviation (Stork), a sueca SAAB e finlandesa Finnavitec- no projeto do A-3XX, para 555 passageiros.
Como a Boeing, a Airbus recorre a fornecedores em boa parte do mundo industrializado. No caso, 1.500 companhias de todas as especialidades em 27 países do mundo, 30% das quais situadas nos EUA, onde se localizam cerca de 500 organizações que, em 34 Estados, participam da fabricação de todos os modelos da "família".
O consórcio Airbus é a única fonte de modernos jatos comerciais com peso suficiente para disputar o mercado mundial com a Boeing, se bem que o gigante de Seattle (EUA) ainda detém no momento quase dois terços do mercado mundial.
Pioneirismo tecnológico
Em seus 27 anos de existência -muito pouco para quem teve de começar da estaca zero-, a Airbus estabeleceu marcos tecnológicos notáveis, entre os quais o de lançar seu produto pioneiro, o A-300, que foi o primeiro bijato de dois corredores, cabine de comando para apenas dois tripulantes, aceleradores automáticos, proteção contra tesouras de vento. Isso já em 74. Em 77, ainda com o modelo A-300, lançou o CAT 3, primeiro sistema de pouso automático para bijatos.
Com o passar dos anos e a introdução de novos modelos, foi a vez dos sistemas automáticos digitais de vôo, dos displays em tubos de raios catódicos, do monitoramento eletrônico, do uso de materiais compostos em estruturas primárias, dos sistemas digitais de vôo de segunda geração, do "fly-by-wire" (pilotagem por comandos eletrônicos) e do seu "sidestick" em lugar do manche convencional, entre outros marcos tecnológicos.
As duas últimas inovações caracterizam a segunda geração da "família", marcada pelo advento do A-320.
Nasce a "família" de jatos
O conceito de "família" alardeado pelo consórcio europeu não serve apenas para fabricar uma série de jatos que permita a um cliente satisfazer todas as necessidades de sua malha de rotas com aeronaves de uma única origem.
Nesse aspecto o fabricante que tem sede em Toulouse, França, consegue oferecer jatos cujas capacidades se complementam numa faixa que começa -sempre considerando duas classes na cabine- com os 124 lugares do A-319 e termina com os 355 assentos do A-330.
Entre eles estão os A-320 (150 lugares), A-321 (185 lugares), A-310 (220 lugares), A-300 (266 lugares) e o A-340 para 295 passageiros.
Para a maioria, trata-se de uma verdadeira "família", mas o conceito é muito mais profundo, aplicando-se especialmente ao A-320 e todos os modelos que vieram depois dele -e até aos projetos futuros.
Os motivos são a existência do sistema "fly-by-wire", que equipa todos eles, e os recursos que oferece para, praticamente, igualar todas as reações aos comandos dos pilotos, qualquer que seja o porte do Airbus.
No sistema "fly-by-wire" os comandos dos pilotos não são transmitidos aos alerões, profundores, leme e compensadores por um sistema de cabos e roldanas, mas sim por um complexo e sofisticado sistema de computação. Esse sistema envia os sinais do chamado "sidestick" (verdadeiro "joystick"), que substitui o manche dos pilotos por meio de fios elétricos (daí o "wire") aos atuadores hidráulicos que movimentam as superfícies móveis.
Os computadores são ajustados para que a reação de um pequeno A-319 seja muito parecida com a de um pesado A-330/300, abreviando em muito o tempo necessário para a transição de um modelo a outro.
A mesma facilidade acontece quando se deseja que um piloto comande num mesmo mês um bijato leve "narrow-body" e um quadrijato "wide-body", ambos da Airbus, em completa segurança, sem sacrificar sua qualificação profissional.
O chamado "CCQ - Cross Crew Qualification" (a grosso modo, "Qualificação Múltipla") foi autorizada pelo FAA (órgão que regula a aviação nos EUA) em 94. Em decorrência, foi permitido também na França, Alemanha, Canadá e Inglaterra, sendo revolucionário sob todos os aspectos, proporcionando sensível economia às empresas, já que podem utilizar um mesmo efetivo de tripulantes para as mais variadas rotas operadas por sua frota "narrow-body" e "wide-body" de Airbus, reduzir em muito o tempo de treinamento e manter os normalmente complacentes tripulantes de longo curso mais "afiados", ao escalá-los também para vôos domésticos.
Os vôos nacionais exigem normalmente atenção constante e oferecem um número maior de oportunidades para que os pilotos realizem decolagens e pousos mais frequentes.
(EK)

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