São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Hidrovia está mergulhada em polêmica

MARISTELA DO VALLE
DA ENVIADA ESPECIAL AO PANTANAL

Se as obras projetadas para facilitar o tráfego no rio Paraguai forem executadas, o Pantanal pode secar, segundo análise da Cebrac (Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio).
Mas a história da hidrovia Paraná-Paraguai é polêmica, e cada órgão envolvido diz uma coisa.
O projeto analisado pela Cebrac -elaborado por um consórcio liderado pela empresa Hidroservice- prevê a retirada de terra do fundo do rio para facilitar a passagem de barcos, segundo Mauricio Galinkin, diretor técnico da Cebrac. "Com isso, a velocidade da correnteza da água do rio aumentaria muito, provocando seca na região."
As consequências seriam terríveis para a fauna e flora, explica Galinkin. O turismo também diminuiria, devido à fuga dos animais para outras áreas.
Segundo ele, até a Argentina sofreria as consequências se o projeto for implantado. "O aumento da velocidade da correnteza pode causar inundações em áreas argentinas."
As obras ainda trariam problemas para a população pantaneira e para a pecuária, de acordo com o deputado federal Gilnei Vianna (PT-MT).
Para ele, o Brasil não tem interesse econômico em pagar esse ônus ambiental porque a hidrovia já funciona bem para o transporte interno.
"Estamos realizando uma campanha para impedir que o governo autorize essas obras. É preciso adaptar o barco ao rio, e não o contrário."
Posição do governo
O governo afirma ser contrário à execução de obras que possam trazer más consequências à região.
"Estamos analisando os projetos para a hidrovia com muito cuidado. Jamais permitiremos a realização de obras que provoquem os problemas descritos pela Cebrac", afirma Maria Luíza Viotti, representante do Brasil no comitê intergovernamental para a hidrovia Paraná-Paraguai e chefe da divisão da América Meridional no Itamaraty.
Ela afirma que o projeto da Hidroservice só prevê a dragagem em pontos muito críticos e que a mesma quantidade de terra tirada seria recolocada em outros locais para não alterar o leito do Paraguai. "O impacto seria local e não se propagaria pelo rio."
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) apresenta a mesma versão defendida por Viotti sobre a reposição de terra.
"A questão é matemática", diz Jorge Luiz Britto, gerente da divisão da análise de projetos. "Considero suspeita a posição dessas ONGs. Creio que há algum interesse político escuso no posicionamento delas."
Além de não concordar com a análise da Cebrac, o Ibama também não aceitou o relatório de impacto ambiental realizado pela Taylor Engineer, que considera as consequências do projeto desprezíveis.
"Não o aceitamos porque ele estava escrito em espanhol", afirma Britto. "Além disso, faltam informações sobra a fauna e a flora local."
Para Galinkin, o relatório da Taylor não pode ser levado a sério porque foi realizado em pouco tempo.
O próprio Ibama ainda não realizou estudos sobre o projeto. "Estamos esperando o pedido de impacto ambiental do Ministério dos Transportes", afirma Britto. O ministério ainda não definiu o que pretende fazer.
Mercosul A hidrovia Paraná-Paraguai é importante para o transporte de produtos como soja e minério. Seu tráfego cresceu por causa do Mercosul.
Em 1992, foi assinado um acordo entre Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Argentina, com o objetivo de criar normas comuns para a utilização da hidrovia.

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