São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Metade dos acidentes é desconhecida

ANDRÉ LOZANO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Metade dos acidentes com fontes de radiação no mundo não são registrados oficialmente.
Segundo o físico José de Júlio Rozental, que era diretor do Departamento de Instalações Nucleares da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) em 1987, época do acidente com a cápsula de césio-137 em Goiânia, a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) tem contabilizados 750 acidentes com fontes de radiação, no mundo.
Rozental participa do seminário que discute os efeitos da tragédia, dez anos depois.
"No entanto, é possível que exista número igual (750) de acidentes não registrados."
Ele diz que seria necessário que a Aiea fosse informada de todos os acidentes para que eles fossem divulgados e não se repetissem.
Por exemplo, em setembro de 1987, uma cápsula de césio-137 foi abandonada no lixo de uma clínica de radioterapia e encontrada por dois catadores de papel.
A cápsula foi aberta a marretadas. A radiação provocou a morte de quatro pessoas, lesões corporais em 16 e contaminação de 200.
Para Beninson, a maioria dos acidentes desse tipo ocorre por descuido na fiscalização das fontes radiológicas usadas, não por falhas médicas ou industriais.
"É preciso fortalecer os organismos de controle das fontes radiológicas", afirmou Beninson.
Fritz Steinhaeusler, diretor do Instituto de Física e Biofísica da Universidade de Salzburgo (Áustria), alertou para o problema da contaminação radioativa extrapolar as fronteiras dos países.
"Hoje há intenso comércio mundial de metais e outros materiais. Esses produtos podem estar contaminados."
Segundo Rozental, atualmente, especialmente no Brasil, "falta uma cultura de segurança e proteção radiológica".
O físico alerta para um problema que, em breve, os países industrializados terão de enfrentar: os reatores nucleares atingirão o tempo de vida útil (cerca de 40 anos) e terão de ser fechados.
O material usado na construção desses reatores costuma ser reciclado. As estruturas metálicas são reutilizadas na fabricação de automóveis, por exemplo.
"É necessário estabelecer os limites aceitáveis dos níveis de radiação desses materiais, antes que eles vão para as indústrias."

Texto Anterior: Dados sobre danos não batem
Próximo Texto: Cuba cuida de vítimas de césio-137 e de Chernobyl
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.