São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Cingapura é 'vendido' por R$ 4.500

ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apartamentos do projeto Cingapura estão sendo vendidos, clandestinamente, por moradores beneficiados pelo programa.
Apesar de a venda ser proibida, moradores chegam a pedir entre R$ 4.000 e R$ 7.000 pelos apartamentos, construídos pela Prefeitura de São Paulo para abrigar habitantes provenientes de favelas.
Um desses apartamentos, localizado no conjunto Chaparral, na Penha (zona leste de SP), foi oferecido à reportagem da Folha na última segunda-feira por R$ 4.500.
O morador propôs a assinatura de um contrato de gaveta, que seria firmado em tabelião.
Para driblar a fiscalização, ele ofereceu uma fotocópia da sua carteira de identidade (pondo a foto do comprador sobre a sua).
A prefeitura só autoriza venda ou aluguel do imóvel depois que o beneficiado complete três anos de uso. Nenhum edifício inaugurado completou ainda essa idade.
No Chaparral, porém, a prática é comum. Vários moradores indicaram apartamentos que já estariam nas mãos de terceiros.
O comerciante José Adelmo dos Santos decidiu se desfazer do seu após ter ido morar com uma vizinha, no começo do mês.
O primeiro interessado foi Gilberto Alves Ferreira, que, segundo o vendedor, já teria adquirido outros dois apartamentos no local.
Ferreira chegou a assinar, em 9 de outubro, um contrato de venda, registrado no Registro Civil do 3º Subdistrito de São Paulo. A venda seria efetuada por R$ 4.000.
Nos documentos, Santos comprometeu-se a assumir "inteira responsabilidade (...) por atos que possam (...) impedir a transferência de nome para o cessionário".
Segundo o vendedor, Ferreira desistiu ao procurar a prefeitura para saber se poderia regularizar a compra em seu nome. Ferreira não foi localizado pela reportagem.
Santos tentou, então, vender o apartamento para a reportagem da Folha, por R$ 4.500. Ele não sabia que conversava com um repórter.
O comerciante avisou que não seria possível regularizar a venda na prefeitura, mas disse que isso não seria problema. "A fiscalização praticamente não aparece."
Ele aceitou parcelar em duas vezes. A primeira deveria ser paga ontem. Procurado pela Folha por telefone na noite de ontem, Santos não quis comentar o assunto.

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