São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Para Mendonça de Barros, país "não pisca" no câmbio

DO CONSELHO EDITORIAL

José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Política Econômica, exibe a convicção de pistoleiro pronto para o duelo: "O governo embicou num certo rumo e não vai piscar, ao contrário do que ocorreu com alguns governos asiáticos".
Em português corrente, quer dizer que não há a menor hipótese de o governo ceder no câmbio, ao contrário do que imagina o relatório do Morgan.
Na avaliação que a equipe econômica fez com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na noite de anteontem, chegou-se à conclusão de que a turbulência nos mercados deve durar mais dois ou três dias.
Nem por isso há preocupação exagerada. A equipe econômica admite que, como o país está no meio de um processo de estabilização, sempre se corre o risco do que Mendonça de Barros chama de "chuvas e trovoadas".
Mas os dados que puderam ser exibidos ao presidente demonstrariam que "as coisas se movem na direção correta", diz o secretário.
As "coisas" são as seguintes:
1 - Outubro deve registrar o melhor resultado fiscal do ano.
2 - A balança comercial (exportações menos importações) está bem melhor do que se imaginava até o primeiro quadrimestre deste ano, quando a expectativa era de déficit de US$ 15 bilhões.
3 - A inflação mantém-se em 0,10% a 0,20% ao mês.
4 - O programa de privatizações só deverá ser marginalmente afetado pela crise dos mercados.
5 - Os investimentos diretos (em fábricas e não em papéis) continuam vindo. O governo interpreta tal dado como demonstração de confiança no país por parte daqueles investidores que estão olhando para a frente, para dentro de um ano e meio ou dois anos, e não para a gangorra diária das Bolsas.
6 - O desemprego, medido pelo IBGE, deve cair, pois as cinco outras capitais pesquisadas compensariam o aumento já apontado pelo Seade para São Paulo (leia texto à página 2-11).
7 - O Banco Central mostrou que "está plenamente disposto a defender sua política", ao contrário do que, na visão da equipe governamental, ocorreu em certos países asiáticos.
Sequelas
O governo acredita que o aumento dos juros, que teve de ser feito preventivamente, será revertido rapidamente, a menos, claro, que se repitam as "chuvas e trovoadas".
Se for assim, não haverá maiores sequelas sobre o crescimento econômico, ao contrário do que sempre ocorre quando os juros se elevam (ou se mantêm elevados) durante um período longo.
O governo jura não ter notícias de instituições financeiras médias e menos ainda grandes afetadas por perdas severas.
Todo esse panorama bastante otimista não impede que Mendonça de Barros reconheça que, como o país está no meio de um processo de estabilização, "há espaço para riscos".
Sem pânico
O grande risco que a crise asiática evidenciou é, admite Mendonça de Barros, a vulnerabilidade externa. "Nesse período de transição, o problema do financiamento externo é realmente preocupante", diz.
Mas os dados que esgrime sobre melhoria na balança comercial, que ajuda a reduzir o déficit global nas contas externas, o fazem acreditar que não há razão alguma para pânico ou qualquer estado de ânimo parecido.
Até porque, Mendonça de Barros está convencido de que Hong Kong já ganhou a queda-de-braço com os especuladores, em torno de sua moeda, que mantém paridade fixa com o dólar há 14 anos, em sistema que é muito similar ao da Argentina.
Se Hong Kong cedesse, a Argentina seria o alvo seguinte, com evidentes repercussões no Brasil.
"Os três bancos centrais (de Hong Kong, Argentina e Brasil) operaram adequada e rapidamente", conclui.

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