São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Alan Greenspan diz que crash global pode trazer benefícios para os EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Alan Greenspan, disse ontem que a recente convulsão nas Bolsas de Valores poderá ter "efeito positivo" para a economia norte-americana.
Quanto à crise econômica no Sudeste da Ásia, Greenspan afirmou que terá "impacto apenas modesto" sobre o futuro dos EUA.
Suas declarações, durante o pronunciamento periódico que faz à Comissão de Economia do Senado, foram consideradas tranquilizadoras e contribuíram para a estabilização das Bolsas. O índice da de Nova York subiu 0,11% ontem.
Há meses, Greenspan vinha alertando o mercado financeiro para o que chama de "exuberância irracional" e seus perigos.
Alguns observadores temiam que Greenspan pudesse dizer que a queda de segunda-feira não havia sido suficiente e ameaçar com elevação dos juros, que poderia provocar novos traumas. Quem conhece Greenspan sabia que ele ajudaria a apagar o incêndio -e não jogar lenha na fogueira.
Segundo a análise de Greenspan, as dificuldades no mercado financeiro poderão ser um benefício a longo prazo para o país se ajudarem a frear o crescimento econômico a um nível mais sustentável.
"Desde que o declínio nos mercados financeiros não seja cumulativo, é provável que em alguns anos possamos olhar para esse episódio como o fazemos agora em relação ao crash de 1987, como um evento benéfico pelas suas implicações macroeconômicas", disse.
Greenspan afirmou que, mesmo com a recuperação da Bolsa ontem e anteontem, o consumidor se sente "menos rico" agora do que há uma semana e que isso vai resultar em necessária desaceleração da atividade econômica no país.
"O crash de 1987 ocorreu quando a economia norte-americana estava operando com um excesso inflacionário que a queda nas Bolsas de Valores neutralizou", disse Greenspan para argumentar que o mesmo processo poderá ocorrer.
Apesar de a inflação estar sob controle nos últimos anos, Greenspan costuma sempre ressaltar que seus riscos não foram eliminados e que é preciso estar atento para evitar seus efeitos nocivos caso eles reapareçam.
A turbulência na Ásia, segundo a avaliação de Greenspan, é "temporária" e representa apenas "uma pausa" no crescimento econômico daquela região. Mas alertou: "O mercado sempre pune economias que não mantenham políticas saudáveis".
Boa parte das declarações de Greenspan se concentrou no seu tema predileto: a inflação. Ele condenou os economistas que se despreocuparam com o assunto.
"O Fed não pode se dar ao luxo de compartilhar dessa visão complacente das perspectivas da inflação. Há muitos sinais encorajadores na performance recente da economia dos EUA, mas, como já disse antes diversas vezes, mudanças fundamentais ocorrem devagar e precisamos sempre avaliar o balanço entre consumo e demanda de vários recursos produtivos antes de decidir políticas econômicas específicas."
"Seria trágico baixar a guarda contra a inflação porque as pressões para aumento de preços e a elevação dos custos de empréstimos iriam repercutir em toda a economia e minar sete anos de expansão econômica", completou.

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