São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Como reagir à crise da Bolsa

O que fazer com seu dinheiro
Bolsa
. Compras ou vendas em momentos de turbulência são desaconselhadas. Espere a poeira baixar para tomar qualquer decisão. Vai demorar até que o mercado encontre um novo ponto de relativo equilíbrio. E lembre-se: Bolsa é risco

Fundos de ações
. O conselho é o mesmo: evite sacar ou aplicar até que o mercado se acalme, mesmo porque o resgate é feito pela cota do dia seguinte ao do pedido. Encare Bolsa como investimento de longo prazo. Se era para sair, houve época melhor

Fundos de renda fixa
. Os fundos atrelados ao DI (Depósito Interbancário) são mais recomendados porque acompanham mais rapidamente a oscilação dos juros, que subiram. Mas é bom escolher bem a instituição e o um fundo com prazo adaquado à sua necessidade

Fundos alternativos
. Fundos que fazem operações nos mercados futuros não são indicados. Se já eram arriscados, agora o risco aumentou. Fundos de capital garantido são opção para quem gosta de Bolsa sem correr riscos, mas o momento não é propício

Dólar
. Especialistas não recomendam a compra, apesar de as incertezas terem aumentado. O temor de um ataque especulativo contra o real não é recente, e quem apostou no dólar até aqui se deu mal. Se comprar, será uma aposta com risco de perda

Ouro
. Nem pensar. Depende do dólar internamente e dos preços internacionais do metal, que estão depreciados nos últimos meses. Ouro não é investimento, e sim reserva de valor para enfrentar crises de hiperinflação, que não é o caso atual

. CDB
Só é alternativa para quem tem acima de R$ 100 mil para aplicar e vai precisar do dinheiro depois de 30 dias, pois a CPMF embolsa parte do rendimento. Ainda assim vai depender de obter mais de 20% ao ano

. Poupança
Não é das aplicações mais rentáveis, mas é segura, é isenta de IR no resgate e tem a vantagem de o rendimento ser o mesmo para todos os poupadores, ao contrário do CDB, por exemplo. Não é o momento de sacar da poupança

1. Por que a Bolsa de São Paulo voltou a cair?
Apesar de as Bolsas no mundo terem subido, a de São Paulo respondeu a circunstâncias locais específicas. Boatos sobre instituições financeiras com dificuldades de caixa, que estariam prestes a quebrar, e saques nos fundos de ações provocaram a venda de papéis na Bolsa. Os mercados de juros e dólar estão nervosos, o que contamina o ânimo do mercado acionário. E a Bolsa de Nova York, sem o fôlego exibido no dia anterior, também não ajudou: fechou com alta de 0,11%

2. É possível prever o fim da crise?
Com precisão e segurança, não. Se alguém tivesse a resposta, não a divulgaria -aplicaria segundo suas convicções. O que é possível é traçar cenários. O otimista: os fundamentos da economia são sólidos e a crise da Bolsa não deverá se transformar em crise econômica. O pessimista: juros mais altos têm impacto recessivo, o que derruba a Bolsa, fazendo os juros subirem mais, num círculo vicioso. Historicamente, crises agudas terminam rápido. Mas a globalização introduziu fatores novos

3. O que muda na vida do brasileiro?
Por enquanto só afeta diretamente quem tem dinheiro na Bolsa ou em fundos de ações. Mas os efeitos começam a alastrar. Com a forte queda nos preços das ações e dos títulos da dívida externa, que surpreendeu o mercado, muitas instituições financeiras tiveram prejuízo e saíram à busca de liquidez (dinheiro). A maior procura aumenta seu custo, o que já se reflete nas taxas de juros do crediário. Se o Banco Central elevar os juros para atrair dólares, a economia esfria, o que pode gerar maior desemprego

4. De que forma a crise das Bolsas pode afetar o real?
A maior procura por dólares para remessas ao exterior pressionou a cotação do real. Mas o governo interveio para controlar a situação, vendendo dólares. Há, no entanto, desconfiança entre os investidores de que a cotação do real está muito valorizada e que a economia ainda não está equilibrada. Isso pode favorecer especulações contra o real. Numa crise extrema, descartada por enquanto, o BC desvalorizaria fortemente o real

5. Qual a relação entre a crise e as privatizações?
A crise atual foi deflagrada a partir de Hong Kong, um mercado emergente, como o Brasil. Investidores tiveram prejuízo com ações e poderiam reduzir seus investimentos fora do eixo EUA-Europa. Com menos interessados, estatais como Telebrás seriam vendidas com preço menor. Mas há quem entenda que a crise na Ásia reorientará os investimentos estrangeiros para a América Latina.

Entenda a Bolsa
O funcionamento
1. Para que serve?
Para compra e venda de ações de empresas. Os negócios são realizados por corretores. Quando alguém compra ou vende uma ação, está negociando, na realidade, um "pedaço" de uma empresa
2. Valor das ações
Em situações ideais, as ações são vendidas de acordo com a expectativa de lucro da empresa. Quando se espera um lucro grande, as ações passam a valer mais
3. Índices
Os índices utilizados para medir o desempenho das Bolsas de Valores costumam representar um resultado médio de um grupo selecionado de ações. O Ibovespa, da Bolsa de São Paulo, reúne o valor de venda das 51 ações mais negociadas no mercado
4. Influências
Situações econômicas favoráveis (crescimento da economia e inflação baixa) tendem a elevar o valor das ações. Em períodos de recessão, as empresas tendem a ter prejuízo, o que tende a reduzir o valor das ações
A crise
Ataque especulativo
Investidores estrangeiros escolhem um país para investir considerando a rentabilidade e a segurança. Convertem suas moedas fortes (dólar, em geral) em moeda local (o real, no Brasil). Em moeda local, eles compram ações na Bolsa ou títulos de renda fixa. Quando um investidor (ou um grupo de investidores) percebe que a economia do país-alvo não é capaz de arcar com a remuneração que têm atraído o capital começa a vender ações e títulos. Com o dinheiro obtido, passa a usar a moeda para comprar uma grande quantidade de dólares. O aumento pela demanda de dólares valoriza a moeda estrangeira, o que pode levar a uma desvalorização da moeda local (o caso da Tailândia) ou o aumento da taxa de juros (Hong Kong)
Aumento da oferta
Diante da expectativa de desvalorização de suas ações, que são negociadas na moeda local, outros investidores correm para vender suas ações, o que aumenta ainda mais a queda dos preços e a demanda por moeda forte
Crise em cadeia
Investidores de outros países "emergentes" temem ataques especulativos fora do lugar em que começou a crise e buscam vender também suas ações-testando a capacidade do país de "resistir" a essa nova situação. Nos países desenvolvidos, as ações das multinacionais instaladas nos países emergentes também caem. Com as Bolsas funcionando em fusos horários diversos, os índices de negócios acabam sendo influenciados pelo comportamento de outros mercados, que abriram mais cedo

Os efeitos
1. Juros
Uma maneira que o governo pode encontrar para manter o investidor estrangeiro no país é aumentando os juros que servem de referência para as aplicações em moeda local. Esse tipo de medida afeta o cidadão, independentemente de ser ou não investidor em ações, porque vai pagar seus empréstimos com juros mais altos, por exemplo
2. Reservas
Quando os investidores decidem retirar em massa o dinheiro de um país (em moeda forte, o dólar), o governo local pode tentar reagirvendendo dólares - a idéia é provocar uma superoferta da moeda e reduzir seu preço. Pode não dar certo. O investidor compra seus dólares, sai do país e as reservas já se foram. Como última tentativa, o BC pode desvalorizar sua moeda-o que significa ganho imediatopara os que tinham dólar. Consequência esperada: recessão

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