São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Nervosismo faz US$ 4 bilhões saírem do país em apenas um dia, afirma BC

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CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Informação é da chefe de área de operações externas do banco; volume equivalente à perda de um mês todo

O nervosismo do mercado financeiro provocou a saída de US$ 4 bilhões do país somente anteontem, um volume que só costuma ser registrado em períodos de 30 dias.
A informação foi dada à Folha pela chefe do Depin (Departamento de Operações das Reservas Internacionais do Banco Central), Maria do Socorro Costa de Carvalho.
"Foram remessas de lucros de estrangeiros, antecipações de fechamento de contratos de importação e movimento de outros investidores que agiram movidos pelo medo e pelo nervosismo", afirmou.
Maria do Socorro não informou em que segmentos do mercado ocorreu a saída de dólares -se no flutuante (dólar turismo) ou no mercado de taxas livres (chamado dólar comercial).
Volumes
Em julho, a saída líquida no mercado de taxas livres foi de US$ 3,579 bilhões. Em agosto, foram US$ 3,964 bilhões, e em setembro, US$ 612,5 milhões.
Anteontem, saíram do país US$ 2,888 bilhões líquidos somente no segmento de taxas livres, em que ocorrem as operações comerciais, empréstimos, financiamentos, repatriação de dividendos, entre outras.
Tirando as operações relativas ao comércio externo, a saída de dólares pelo mercado de taxas livres chegou a US$ 2,960 bilhões anteontem.
É razoável supor que parte dos dólares tenha sido adquirida por investidores que tiraram seu dinheiro das Bolsas de Valores e fizeram remessas ao exterior.
Otimismo
No início da tarde de ontem, as notícias que circulavam em torno da mesa de câmbio do BC eram mais animadoras, segundo a chefe do Depin, que comandou os sete leilões de venda de dólares promovidos anteontem para conter a ação dos especuladores.
"Estamos no rescaldo, no 'day after', mas o mercado está mortinho da silva, tranquilo", dizia Maria do Socorro.
Segundo ela, o BC só chamaria um leilão de compra de dólares no momento em que o valor da moeda chegasse ao piso da minibanda -R$ 1,1015.
Anteontem, Maria do Socorro operou a mesa de câmbio do BC com mais cinco pessoas.
Foi ela que sugeriu ao presidente do BC, Gustavo Franco, o aumento dos lotes mínimos de venda de dólares -que começaram em US$ 5 milhões e terminaram em US$ 15 milhões.
"Aumentamos os lotes até que o mercado se saciasse", afirmou a chefe do Depin.
Gustavo Franco e o diretor do Departamento de Assuntos Internacionais do BC, Demósthenes Madureira de Pinho Neto, acompanharam os leilões de perto.
"Almoçamos sanduíche na mesa de câmbio", contou Maria do Socorro.
Depois de 12 horas de trabalho no dia da crise, a avaliação de Maria do Socorro é de que o Banco Central brasileiro deixou claro para o mercado que "tem cacife e funcionários eficientes" para enfrentar investidas de especuladores.

LEIA MAIS sobre saídas de dólares na coluna Celso Pinto à pág. 1-14

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