São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Aumento do calote pode antecipar recessão

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A inadimplência de pessoas físicas vai continuar num patamar alto -30% superior ao de 1994- até o primeiro semestre de 1998.
A AMR Editora, que publica o Boletim Indicadores Antecedentes, acaba de concluir um estudo que prevê poucas chances de o consumidor voltar a pagar as contas em dia, pelo menos num curto prazo, o que pode indicar um período de pré-recessão.
A AMR colheu dados que mostram o grau de insolvência do consumidor em três Estados brasileiros -São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul-, como cheques sem fundo, empréstimos bancários com quitação ou prestação em atraso, títulos protestados e registros negativos no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito).
O Indicador Antecedente de Insolvência, resultado do cruzamento dos dados, tomou como base o ano de 1994. Um ano depois, em 1995, a inadimplência cresceu 22%. Em 1996, caiu um pouco, 1,6%, na comparação com 1995. E, neste ano, subiu novamente -8,3%- sobre o ano passado. Sobre 1994 o aumento é de 30%.
Josef Barat, sócio-diretor da AMR, diz que uma das razões para a inadimplência continuar alta é o fato de o brasileiro ter se endividado no crediário de longo prazo. "Ele acabou assumindo compromissos acima das possibilidades."
Essa fragilidade financeira do consumidor, diz Barat, já está afetando as empresas e pode significar que o país está num período anterior à recessão. Essa situação, afirma, já foi vivida no passado.
Na recessão de 1987 e 1988, segundo o estudo da AMR, a inadimplência já vinha dando sinais de alta um pouco antes.
"As insolvências, quando sistêmicas, eliminam as empresas menos eficientes, mas enfraquecem as que sobrevivem, mesmo as eficientes", diz o estudo da AMR.
Levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram, assim como o estudo da AMR, que o calote do consumidor continua incomodando.
Dados referentes à primeira quinzena deste mês mostram um salto de 107,7% no número de carnês em atraso (178.729) na comparação com o de igual período de 1996 e de 53% sobre o da primeira quinzena de setembro.
Se o número de carnês em atraso desta segunda quinzena de outubro for igual ao da primeira, a inadimplência no comércio paulista deve bater novo recorde. Até então, o recorde foi registrado em julho, com cerca de 314 mil carnês atrasados.
Natal
Para Claudio Contador, que também é sócio da AMR, o comércio vai ter de ser ainda mais exigente na concessão do crédito, o que pode dificultar ainda mais a venda daqui para a frente.
"Assim, o Natal deste ano deve ser fraco. Esse quadro só deve se inverter com o crescimento da massa salarial. O varejo está bem preocupado."
O 13º salário, analisa, não deve ter grande impacto no consumo, pois 60% do dinheiro, segundo ele, deve ser usado para pagar dívidas.
O faturamento real do comércio paulista neste mês, prevê a FCESP, deve cair 14% sobre o de outubro do ano passado. A venda física deve cair 12% no período.
Para novembro, segundo a federação, os números não são muito diferentes. A expectativa é de queda de 11% no faturamento e de 8% na venda física na comparação com igual mês de 1996.

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