São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Efeito-Bolsa pressiona juros do crediário

FÁTIMA FERNANDES

FÁTIMA FERNANDES; GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Taxa média de 6,5% ao mês deve subir para até 8,5% já hoje; causas são inadimplência e clima tenso

GABRIEL J. DE CARVALHO
Algumas redes de lojas começam, a partir de hoje, a aumentar entre um ponto e dois pontos percentuais as taxas de juros cobradas no financiamento ao consumo.
O juro médio de 6,5% ao mês, cobrado pelas lojas de eletroeletrônicos, de móveis e de materiais de construção, deve subir para até 8,5% ao mês, nos cálculos de financeiras ouvidas pela Folha.
Os juros cobrados no empréstimo pessoal e no cartão de crédito, mais altos, que estavam em torno de 10% a 11% ao mês, devem subir para até 13% ao mês. Se o mercado financeiro continuar turbulento por conta da queda da Bolsa, dizem as financeiras, é possível que os juros subam ainda mais.
Para o Banco Cacique, que administra o crediário de 200 redes espalhadas pelo país, o aumento dos juros deveria ter ocorrido há alguns meses por causa do crescimento da inadimplência.
"O mercado de financiamento ao consumidor se tornou muito competitivo com a entrada de novos bancos, pressionando para baixo os juros. E, junto com isso, aumentou a inadimplência. Essa correção na taxa precisava ser feita", diz Wanderley Vettore, diretor do Banco Cacique.
Até junho, conta ele, de cada cem clientes do banco, cinco atrasavam o pagamento das prestações. Hoje, já são quase sete. "Agora, com essa confusão no mercado, é hora de fazermos o ajuste das taxas."
Clima nervoso
Oswaldo de Freitas Queiroz, diretor-geral da Servloj, empresa especializada em crédito direto consumidor, confirma que os juros do crediário subiram mesmo entre um e dois pontos percentuais.
Já havia certa disposição em elevar os juros, segundo ele, para compensar o crescimento da inadimplência. A crise nas Bolsas e o consequente encarecimento do custo do dinheiro apressaram a decisão.
Um dos parâmetros do custo do dinheiro é o CDI, taxa de juros de empréstimos entre bancos. Nesse mercado, a taxa média subiu de 22% para 33% ao ano, chegando a bater em 45% na terça-feira.
Queiroz acha, entretanto, que essa atitude é mais defensiva e a alta dos juros nos empréstimos poderá ser passageira, mesmo porque é grande a oferta de crédito.
Outra consequência desse clima nervoso, relata Queiroz, é certa restrição ao crédito, com muitas lojas cortando de 24 para 12 meses o prazo máximo do crediário.
Dinheiro mais caro
A Fininvest, que administra crediário e cartão de lojas, cartão de crédito próprio e faz empréstimo pessoal, também vai aumentar os juros em pelo menos um ponto percentual.
"O dinheiro agora ficou mais caro porque houve perda no sistema financeiro com a queda da Bolsa", diz Cassiano Luiz Silva, diretor financeiro da Fininvest, que tem 6,5 milhões de clientes.
Segundo ele, cerca de US$ 5 bilhões saíram do mercado nos últimos dois dias. "Agora há uma desconfiança geral, pois ninguém sabe quem tem saúde financeira para bancar esse prejuízo."
O crescimento da inadimplência, diz Silva, também está levando a financeira a elevar os juros. Do valor emprestado pela financeira (cerca de R$ 200 milhões por mês), conta ele, a inadimplência (atraso no pagamento superior a 60 dias) representa 7%. Há um ano participava com 4,5%.
Cai mais o consumo
As vendas que já não animam o comércio devem ficar mais fracas com o aumento dos juros, segundo as financeiras e os lojistas.
A Lojas Bernasconi, rede com 30 pontos-de-venda, diz que vai aconselhar o consumidor a comprar em até seis vezes, apesar de ter um crediário de até 24 meses.
"Ainda vamos insistir com as financeiras para que elas recuem um pouco. Caso contrário, o Natal vai ser pior do que o esperado", diz Luvirto Bernasconi, diretor.
Girzs Aronson, proprietário da rede G. Aronson, ficou desanimado ontem ao saber que os juros iam subir: "A venda já está paralisada. Como vai ser o Natal?"
Para a Lojas Cem, que banca o próprio crediário, as vendas estão tão fracas que não é hora de aumentar os juros.
O grupo Pão de Açúcar (Eletro, Extra e Pão de Açúcar) informa que, por enquanto, não vai alterar os juros que cobra dos consumidores. A estratégia no momento é esperar o mercado acalmar.

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