São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997 |
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Prejuízos provocam curto-circuito no crédito
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
Em suma, quem tinha dinheiro não emprestou; quem não tinha precisou fazer. Restou o caminho de continuar vendendo ativos (ações, posições nos mercados futuros etc.). No mercado, não há boas almas. Não se compram ativos por preços "justos" para ajudar o próximo. Quanto mais baratos, melhor. Os participantes do mercado, vendedores e compradores, sabem que vão participar de verdadeiras liquidações. Ou seja, boa oportunidade para alguns, desespero para outros. Alguma restrição da liquidez é resultado direto da ação do Banco Central (BC). É o resultado esperado da série de leilões de venda de dólar que o BC realizou na terça-feira, para acalmar o mercado e reafirmar a continuidade de sua política cambial. O mercado estima que o BC vendeu US$ 7 bilhões e recomprou US$ 2 bilhões. Ou seja, algo como R$ 5 bilhões deixaram de circular no mercado. Além da quantidade menor de dinheiro no mercado, o que tinha ficou empoçado pelo risco de crédito. O risco emergiu por conta dos prejuízos provocados por esse "El Niño" financeiro. Há números díspares, mas já se fala em perdas totais (somando mercados futuros de juros e câmbio, Bolsas) de R$ 3 bilhões. Circula que um banco teria remetido US$ 1 bilhão para o exterior para cobrir "margens" em aplicações em títulos da dívida externa. Também se comenta que instituições teriam perdido de US$ 15 milhões a US$ 25 milhões só com a flutuação dos preços do C-Bonds, um dos mais negociados títulos da dívida brasileira. Quem saiu mais machucado é o que se discute. Na dúvida, não se empresta dinheiro. É uma reação racional. Só faltava perder dinheiro nas quedas das Bolsas e, depois, ainda por cima, não receber de volta o dinheiro emprestado nos dias em que o terreno ainda está se acomodando a essa nova situação. O empoçamento do dinheiro tem como consequência mais óbvia aumentar o preço cobrado por ele, o juro. E é esse efeito perverso da crise que pode provocar mais feridos ainda -embora a alta do juro, o que é visto como necessário, possa tornar mais atraente ao investidor estrangeiro ficar com o dinheiro no Brasil. E, para o mercado, há feridos entre instituições, pessoas físicas e países. Um dos países feridos, resta saber o tamanho do ferimento, é o Brasil. Nos cálculos do mercado financeiro, o país perdeu cerca de US$ 6 bilhões de reservas internacionais (o caixa em moeda forte), aproximadamente 8% do total, em apenas dois dias (anteontem e ontem). Aconteça o que acontecer no mercado nos próximos dias, mais dinheiro está esperando a oportunidade para sair do país -as ordens já foram dadas. Logo, a pressão sobre o câmbio vai continuar por algum tempo. Texto Anterior: Aperto de instituições faz a Bovespa desabar de novo Próximo Texto: Patrimônio de fundos encolhe R$ 2 bilhões Índice |
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