São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Parem tudo, o governo sumiu

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Nem Lula nem Ciro Gomes nem Itamar Franco nem José Sarney. O maior risco para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso passou a ser o cassino global.
Pior, para o presidente: não há muito o que ele possa fazer para enfrentar o não tão novo inimigo. Talvez a situação fosse um pouco mais confortável se não tivesse havido, lá atrás, no lançamento do real, uma sobrevalorização da moeda brasileira em relação ao dólar norte-americano.
Mas, agora, é tarde. A melhor coisa que o governo tem a fazer, ao menos enquanto perdurar a volatilidade nos mercados, é gritar, como na velha piada: "Senta que o leão é manso".
Mexer no câmbio seria um risco monstruoso, que destruiria o que é, a rigor, o único ativo que o presidente pode exibir para a campanha eleitoral: o controle da inflação.
É verdade que o deputado Delfim Netto (PPB-SP) tenta provar, como o fez de novo ontem, em sua coluna na Folha, que desvalorizar a moeda não significa automaticamente disparar a inflação.
Pode até ser verdade, mas em condições normais de temperatura e pressão.
Na ciranda enlouquecida que se instalou nos mercados, qualquer alteração cambial seria entendida como crônica anunciada de uma maxidesvalorização, com todos os efeitos decorrentes.
O que deveria trazer consigo uma pergunta essencial: a vulnerabilidade externa veio para ficar? Há algum meio de estender uma rede de proteção, mínima que seja, sob o trapézio em que giram os países ditos emergentes, agora correndo o risco de imersão?
Ou posto de outra forma: o país está condenado a conviver para sempre com um "efeito tequila", seguido por um "efeito Tailândia" e, logo depois, por um "efeito dragão" e, amanhã, sabe-se lá por qual porre?
Ou alguém tem uma resposta animadora ou a única coisa que resta a fazer é gritar: parem o mundo que os governantes sumiram.

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