São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Isolar o vírus

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Nem os economistas conseguem efetivamente entender por que a queda das Bolsas sai da Ásia, passeia por Nova York, bate às portas do Brasil e de outros menos cotados e vira uma revolução internacional desse porte. Se nem eles, imaginem nós.
Como admite o presidente do BC, Gustavo Franco, o que se pode fazer, por ora, é manter uma vigilância cerrada sobre as oscilações internas e externas e intervir pontualmente sempre que ameaçarem fugir do controle.
Segundo Franco, é também fundamental que a crise de papéis não caia na real. Muito menos no real. Em outras palavras: se você não consegue saber o tamanho nem o grau de contágio do vírus, o melhor é isolá-lo.
É justamente isso que Franco e o restante da equipe tentam fazer: isolar o vírus financeiro do corpo da economia brasileira.
"Devem correr riscos aqueles que vivem dos riscos altos e das recompensas altíssimas", disse Franco à Folha ontem, resumindo a ação do BC.
Quanto ao empresário e ao cidadão comum, que possam dormir em paz. "O João, o José, o homem da rua nem repara direito que as Bolsas caíram, que a crise é desse tamanho", aposta ele. A tendência do tal mundo globalizado, aliás, é transformar o sistema financeiro numa espécie de superabstração, onde se manipulam fortunas calculadas em US$ 3,5 trilhões. À parte, ficaria o mundo real, em que as empresas e as pessoas produzem, vendem, compram, trabalham e perseguem a eficiência.
Não só Gustavo Franco, mas também consultores do mercado já haviam detectado com agradável surpresa essa independência entre os dois mundos.
Ninguém sabe quando, onde e com que intensidade vai explodir a nova onda. Muito menos como vai desembarcar em Nova York e se irradiar para o Brasil. A única certeza que está-se cristalizando é que ela virá.
Para evitar febre alta e cama, ainda não se inventou remédio melhor do que vitamina C e cama. Leia-se: ordem no setor público e progresso no setor privado.

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