São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Governo aponta os riscos da globalização

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar das manifestações de surpresa do governo com a crise nas Bolsas de Valores mundo afora, a possibilidade de o Brasil ficar vulnerável a movimentos especulativos já havia sido detectada pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) da Presidência da República.
A crise do atual modelo aparece como uma das tendências, com repercussões dramáticas para o Brasil. Este cenário ganhou o nome de "caaetê"e a previsão é de fuga de capitais como reflexo de uma crise externa que aporta no Brasil.
Com base na análise do cenário internacional e prognósticos sobre o futuro da chamada economia globalizada, a SAE fez projeções sobre o destino do país em 2020 -ano em que o número de brasileiros deverá chegar a 197 milhões, 37 milhões a mais que hoje.
O estudo a que a Folha teve acesso sugere que o país terá de escolher, na entrada do próximo milênio, se quer estar entre as maiores e mais competitivas economias do planeta ou se vai resolver as desigualdades sociais, que dão ao Brasil o título de campeão mundial de concentração de renda.
Após consultar 70 especialistas, a SAE traçou três tendências "prováveis" para o futuro do país no mundo globalizado:
1) o Brasil cresce rapidamente ao ritmo dos países emergentes da Ásia e ganha competitividade no mercado internacional, a ponto de integrar o time das mais importantes economias do planeta.
Como efeito colateral do progresso tecnológico acelerado, que tende a economizar mão-de-obra, e na falta de uma resposta rápida do sistema educacional, permanece alta a disparidade de renda entre os trabalhadores qualificados e os não qualificados;
2) em vez de ganhar competitividade e reduzir os custos de produção, o país decide investir na criação de oportunidades de emprego. Nessa hipótese, o ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) se estabiliza em cerca de 4% ao ano. Com isso, o Brasil pode perder a posição de oitava maior economia do planeta;
3) numa terceira hipótese, o país enfrenta a incerteza de uma crise externa. O resultado é apocalíptico: a economia pára de crescer e as condições sociais pioram.
Combinação de tendências
Batizados com nomes de origem indígena -respectivamente abatiapé, baboré e caaetê-, os cenários não expressam qual seria a melhor opção para o Brasil.
O embaixador Ronaldo Sardenberg, secretário de Assuntos Estratégicos, defende uma combinação das tendências, mas não descarta o cenário mais pessimista.
"Não está claro ainda o que nós queremos ser, se nós vamos optar por um caminho mais rápido de capitalização da economia, de uso intensivo de tecnologia, ou se nós vamos caminhar para uma economia melhor organizada socialmente: seremos capazes de combinar as duas coisas?", ponderou.
Sardenberg insiste em que haverá impactos negativos, qualquer que seja a escolha."Se você optar por uma fórmula de distribuição de renda, o país fica menos competitivo, seu ritmo de crescimento cai; se você optar exclusivamente pelo ritmo de crescimento econômico, corre o risco de diminuir o emprego, podendo inclusive afetar o meio ambiente."
Os cenários traçados pela SAE servirão de referência para a próxima etapa de integração da economia brasileira no chamado mundo globalizado, marcada para 2005, quando deverá ser concluída a negociação entre os 34 países do continente para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

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