São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Miscigenação cria tipos físicos fora dos padrões

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande miscigenação racial no Brasil produz tipos físicos bem singulares, difíceis de serem classificados pelos padrões mais convencionais de cor (branco, pardo, preto, amarelo ou indígena).
O cantor Wando, 52, é um desses casos. Registrado como pardo, termo que ele considera "uma grossura" e uma ofensa, Wando se define como "um cara de cabelos encaracolados de origem negra".
Para ele, daqui a algumas décadas, com o aumento da miscigenação, "todo mundo vai ter cabelo encaracolado no Brasil".
Além da origem negra, o cantor também descende de portugueses e índios. "Não ficaria ofendido se me chamassem de afrodescendente, mas essa definição só mostraria um lado das minhas raízes. Talvez no meu caso fosse melhor uma definição como 'afroportugal"', afirma o cantor, nascido em Minas Gerais.
Salada
A cantora e atriz Tânia Alves também se considera afrodescendente (um dos bisavôs veio da África), embora classifique a cor da sua pele como branca.
"As pessoas pensam que sou mais morena do que na verdade sou por causa dos personagens que interpretei na televisão, para os quais, às vezes, tive de me bronzear. Mas, se eu pego muito sol, fico vermelha como um gringo", afirma Tânia.
Segundo a atriz, há cinco elementos étnicos presentes em sua família -negro, português, judeu, holandês e índio brasileiro.
"É uma salada. No meu caso, precisaria de uma página inteira (do censo) para definir as minhas raízes."
A mistura de raças faz com que algumas pessoas tenham de explicar constantemente as suas origens e sejam vistas como brancas por uma parte da sociedade e como negras por outra.
A atriz e promoter Regina Oliveira, que se considera com traços predominantemente de origem negra, muitas vezes é questionada sobre sua ascendência.
"Em geral, os brancos me acham negra e os negros me acham branca. Mas nunca tive muitos problemas de discriminação racial por causa disso. Só tirei bom partido dessa história", conta Regina.
Ela explica que, além da origem negra, sua família tem mais dois componentes étnicos -o indígena e o europeu (avô paterno de origem alemã).
Apesar de não ter nenhuma objeção a ser classificada como negra, Regina não gosta do termo afrodescendente. "Será que na África só tem preto?", indaga ela.
Olhos verdes
A miscigenação é tamanha no Brasil que dá margem a composições raciais exóticas diante dos padrões mais tradicionais de raça.
Esse é o caso do humorista Hélio de la Peña. Por conta de um bisavô alemão, o humorista, carioca de nascimento, tem olhos verdes, um traço normalmente associado à população branca, de origem européia.
(MP)

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