São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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'Não sou preto nem crioulo: sou negro'

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Em cada revista da polícia, em cada briga, o técnico em microfilmagem Jurandir Jackson Ribeiro Cardoso Júnior se acostumou a ouvir a palavra "negro" como ofensa.
Em dezembro de 1994, fez uma compra de R$ 120, pagou com cheque, pegou a mercadoria e saiu. Andava pela rua quando foi detido por três seguranças da loja.
"Um deles gritou: 'Parado, negão, teu cheque é roubado.' Fui agredido e tive que parar", conta Cardoso, que foi levado até o depósito da loja.
Lá, os seguranças disseram que tinham ligado para o telefone escrito no verso do cheque e que a pessoa que atendera não conhecia Cardoso.
Os seguranças concordaram em ligar de novo para a casa de Cardoso, e o caso foi esclarecido.
Cardoso procurou um advogado e entrou com uma ação de indenização por danos morais. Há dois meses, ganhou uma indenização de R$ 20 mil.
"Eles desconfiaram de mim por causa da minha cor. Não sou preto nem crioulo: sou negro. Acho até que essa palavra afrodescendente é coisa de americano, besteira de quem tem vergonha de dizer que é negro", afirma Cardoso, 31.
"Mulatinha"
Para a modelo Daniela Baronesa, 20, ofensa é ser chamada de "mulatinha bonita" ou "moreninha jeitosa". Filha de uma negra e de um mestiço de olhos verdes, a modelo é classificada como parda em seus documentos oficiais, mas prefere ser chamada de negra.
"Não tenho a pele negra, mas sou negra na raça, no cabelo, no corpo. Quando vier o próximo questionário, vou dizer que sou negra, porque é assim que me sinto. Afrodescendente não é uma palavra que eu use", afirma Daniela.
A modelo conta que nunca sofreu discriminação explícita, mas que, desde a infância, percebe o preconceito "no olhar de cada pessoa".
(FE)

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